São já cinco as temporadas que têm Vítor Pereira como treinador da Sanjoanense. À partida para o novo ano, a palavra de ordem não pode ser outra que não a permanência, pois a realidade do clube assim o obriga. Em entrevista ao nosso site, o técnico antevê aquilo que poderá ser o segundo ano de primeira dos alvi-negros.
Na última temporada, a permanência foi conseguida com muitas dificuldades. Como é que lidou com todas as situações que afetaram a preparação da equipa?
Vítor Pereira: Como dizia o Paulo Bento “com tranquilidade”. Foi complicado gerir várias situações, sabíamos que ia ser um campeonato difícil até porque não estávamos 100 por cento preparados para o ritmo da primeira pois vínhamos de uma realidade diferente. Quando as dificuldades apareceram, tentamos resolver da melhor maneira. Felizmente conseguimos que os jogadores ficassem à margem disso.
Mas tendo estado com a casa às costas, considera que chegou ao primeiro jogo menos preparado do que se tivesse feito a pré-época no Pavilhão dos Desportos?
V.P.: O ritmo que nós tivemos, a falta de organização motivada pelas constantes mudanças de ringue que muitas vezes não davam para fazer o plano de trabalho previsto, fez com que não estivéssemos tão bem preparados. Recordo que, nas primeiras jornadas, perdemos dois jogos pela margem de um golo, contra o Barcelos e contra o Paço de Arcos, que foi o nosso primeiro jogo em casa e tínhamos, nesse dia, o piso a escorregar e mais parecia que estávamos a jogar fora frente a uma equipa muito experiente e estável.
Todas estas pequenas diferenças fizeram como que não embalássemos e com que andássemos na linha de água sempre em sacrifício.
Alguma vez pensou desistir quando o cenário parecia cada vez mais complicado?
V.P.: Sempre senti que íamos conseguir a permanência. É claro que houveram situações menos boas. Sempre disse que sou treinador da Sanjoanense até quando acharem. Os diretores sabem e sabiam disso mas parece-me que era notório que a culpa não era da equipa técnica nem dos jogadores, mas sim de alguma falta de experiência. Desitir não é o meu lema. Era muito mais cómodo subir de divisão e sair ou alcançar a permanência e não ficar, mas eu não estou preocupado com isso mas sim com o trabalho que é preciso desenvolver. Desde que eu sinta o apoio dos Sanjoanenses, continuarei.
Depois de ter conseguido a subida com um pénalti, a permanência foi alcançada com um golo. Sente que foi um final de temporada épico?
V.P.: Da mesma forma que não subimos por uma unha negra, também chegamos à primeira e ficamos lá por uma unha negra. A alcunha de “unhas-negras” dos sanjoanenses fica-nos bem. O segredo tem sido sempre não desistir e é transmitido pelo grupo, adeptos e claque.
Não acaba por ser uma história curiosa para um dia mais tarde recordar?
V.P.: É uma forma diferente mas pelo trabalho que fazemos nas condições que fazemos, merecemos acreditar sempre. Sendo assim, quando conseguimos, o sabor é especial e mais tarde vamos recordar que foi por nunca termos desistido e que foi por um pequeno detalhe que se fez a diferença.
Prepara-se para assumir a equipa pelo quinto ano consecutivo. A família está preparada para mais um ano de ausência?
V.P.: Este ano cheguei ao fim muito desgastado e a família também. Mas para isso contou a preparação inicial que foi alterada e que me fez perder muito tempo fora do ringue. Foi preciso a minha intervenção em muitos problemas. Este ano penso que vamos começar de uma forma mais estável e espero ser o Vítor Pereira 100 por cento debruçado sobre o trabalho técnico e não me desgastar com outras coisas e assim melhorarmos o nosso trabalho dentro do ringue.
A Sanjoanense tem obrigação de fazer mais depois de ultrapassado o ano zero? Ou a permanência é o único objetivo possível para o clube?
V.P.: Tem que ser isto, a permanência. A nossa realidade, se fôssemos a analisar a secção de hóquei, não era compatível para uma I Divisão. Só é possível estarmos na primeira porque muita gente se supera: desde os jogadores, passando pela equipa técnica, diretores, colaboradores e adeptos. Nós só temos que lutar passo a passo para conseguimos a permanência. Eu também gostava de entrar num ano de consolidação com um projeto mais forte mas a realidade da Sanjoanense não permita. Compete-nos apresentar um hóquei melhor e lutar para que quatro ou cinco jogos, o ano passado, onde poderíamos ter pontuado, que consigamos inverter a tendência este ano.
É preciso notar que esta vai ser uma época com um campeonato muito competitivo. As equipas que desceram há dois anos na I, voltaram a subir na temporada passada. Cambra, Física e Braga têm muita experiência na primeira, nenhuma pode ser considerada como formação de segunda. De entre estas todas, a Sanjoanense é a única que, nos últimos dez anos, só esteve presente uma vez.
Para isso acha que este ano tem um plantel mais equilibrado?
V.P.: Muita gente me diz que temos um plantel melhor, eu acho que nem é melhor nem é pior, a palavra certa mesmo é “equilibrado”. Faltava-nos um jogador de área, pois criávamos muitas movimentações que não conseguíamos finalizar e, ao termos um jogador com estas características faz com que outros como o João Oliveira joguem na sua posição natural. Tivemos a saída do Filipe Leal e entrou o Filipe Sousa que, apesar de vir da II Divisão, já tem experiência de I Divisão. Se calhar não sobe tanto como o Leal fazia mas também isso traz a vantagem de ficarmos mais equilibrados na defesa. Tudo é, agora, uma questão de adaptação e sei que eles vão adaptar-se rapidamente e, com estes jogadores, penso que poderemos colocar novas movimentações além das que já temos e tentar fazer a diferença perante os adversários, que já começam a conhecer-nos e precisamos estar em constante mudança.
Precisamente porque os adversários terão mais em conta a Sanjoanense, uma das armas continuará a ser o “caldeirão” do Pavilhão dos Desportos?
V.P.: Sem dúvida, o nosso pavilhão é especial não pelas condições que tem mas pelos adeptos que temos. É um recinto antigo, infelizmente os balneários são dos mais pobres da I Divisão, mas dentro do ringue é dos mais ricos. Nós jogamos para as pessoas e para os adeptos e, felizmente, podemos contar com eles que estão sempre a apoiar-nos nas vitórias e nas derrotas e isso faz a diferença para motivar os jogadores. Esperamos em casa ser mais fortes e fora de casa conseguir mais pontos, até porque os nossos adeptos também nos acompanham fora de casa.
Analisando o calendário, crê que na primeira volta a equipa deverá fazer mais pontos que na segunda?
V.P.: Às vezes as coisas não são assim tão lógicas. O calendário está mais repartido, tanto jogamos com uma equipa do nosso campeonato como depois jogamos com outra formação mais valiosa, há jogos que podem fazer a diferença e nós vamos ter que os ganhar: em casa e fora de casa. Tudo o resto, fazer objetivos por pontos não é linear, porque há equipas que surpreendem outras ajustam-se e o que interessa é fazer mais pontos que os adversários.
Depois da forma como foi conseguida a promoção e agora a permanência, pensa que está talhado para lidar com a pressão?
V.P.: Preferia que fosse de outra maneira. Preferia ter mais tranquilidade mas um atleta, um treinador, um homem do desporto tem que saber lidar com a pressão. A pressão faz parte do dia-a-dia quer no trabalho quer no desporto. O importante é como as coisas acabam não como começam e é preciso é que elas acabem bem, trabalhar sempre e transformar a pressão em motivação para conseguir pontos e chegar ao fim com o objetivo cumprido.
Tem uma grande relação de proximidade com os adeptos, sente-se bem nesta relação de amizade com eles?
V.P.: São cinco anos e talvez nesta relação também haja uma pressão, mas positiva, estamos a trabalhar, a viver e a treinar tudo na mesma cidade, não há espaço para respirar sem misturarmos tudo. Mas eu sinto que as pessoas gostam do meu trabalho, algumas não gostam mas têm que o aceitar porque o trabalho está lá com resultados, portanto sinto-me apoiado pelos adeptos e enquanto eu me sentir apoiado por eles, pela direção e pelo clube estarei cá, quando assim não for, outros terão oportunidades com mais paixão ou menos paixão, isso é irrelevante.
Agora, sinto um grande orgulho em representar este clube pelo qual joguei tantos anos hóquei em patins da cidade que vivo, onde os meus filhos estudam e acho que existe uma boa empatia entre mim e os adeptos.
Foto: Anybal Bastos