«Sonho poder representar a Sanjoanense nos campeonatos profissionais» – Diogo Almeida

“Não tenho grande jeito para este tipo de coisas”, disse-nos Diogo Almeida, antes de responder às perguntas que lhe preparámos. Convidado para uma entrevista ao nosso site, o guarda-redes deixava o aviso para qualquer eventualidade que dali pudesse decorrer, acabando, mesmo assim, por agarrar o desafio, como se de um remate à baliza se tratasse.

Ainda que algo tímido, o jovem não fugiu a nenhuma das questões, nem mesmo às mais sensíveis e que traziam à memória sentimentos menos agradáveis. Num trajeto entre o passado e o presente, lembrou a passagem pela formação alvinegra, percorrendo o currículo que até aqui apresenta e analisando os diferentes sentimentos e emoções que vive em campo, altura em que se solta e agiganta entre os postes.

Com um percurso difícil e um contexto nem sempre motivador, o guardião não se escusou a comentar os momentos menos bons, abordando com frontalidade a mágoa sentida quando abandonou a Sanjoanense e recordando a altura em que, ao serviço do Gondomar, ponderou por fim à ainda curta carreira.

Com discurso calmo, fluido e muito seguro, Diogo não esconde o orgulho pelo trajeto feito e, hoje em dia, não hesita em valorizar a decisão tomada em 2013, altura em que consumou um regresso que sempre desejou e que o ajudou a tornar-se num dos alicerces do plantel principal da Sanjoanense. Para o futuro, um sonho: representar a Sanjoanense nos campeonatos profissionais de futebol.

 

Diogo, és mais um dos produtos da formação da Sanjoanense, clube que representaste ininterruptamente até ao primeiro ano de sénior. Sonhavas, quando começaste a representar o clube, chegar à equipa principal?

Sim, foi um sonho para o qual fui trabalhando. Quando era mais novo via os jogos da Sanjoanense e sempre sonhei chegar à posição dos guarda-redes que por aqui passavam. E aos poucos fui-me apercebendo que esse sonho podia tornar-se real. Ainda nos juniores tive oportunidade de ser chamado à equipa sénior, numa altura em que o Pedro Justo e o João estavam lesionados, e fui trabalhando com eles. Mas no último ano de júnior, apesar de terem falado comigo para continuar, acabaram por surgir novas oportunidades. Saí da Sanjoanense com muita mágoa mas sabia que poderia voltar um dia para representar a equipa principal.

O que sente um atleta da formação ao ter a oportunidade de representar a equipa principal?

Um orgulho enorme. Foi o que senti, porque passei a representar a cidade em que cresci e o meu clube. É algo inexplicável.

Referiste, há pouco, a mágoa com que saíste da Sanjoanense. A mudança foi difícil de gerir, certamente…

Na altura foi… Era o meu primeiro ano de sénior, fui à experiência para o Esmoriz, que estava na antiga II Divisão, e depois de duas semanas em testes acabei por assinar. Mas não esperava ter que seguir novos caminhos no meu primeiro ano de competição como atleta sénior. Isso custou-me um pouco… Tive que adaptar-me a novos contextos, novas pessoas, novas rotinas, um novo plantel e a um clube diferente. Joguei durante anos na Sanjoanense e estava habituado ao meu lar…

Durante os anos em que atuaste nos escalões de formação, qual foi o melhor momento que viveste?

Talvez o ano de júnior, altura em que comecei a sentir um bocado do que seria o futebol sénior. Infelizmente nunca fui campeão pela Sanjoanense durante a formação, apesar de ter estado perto de o conseguir nos iniciados e no primeiro ano de júnior. Faltou-nos um bocadinho de sorte…

Depois das experiências no Esmoriz e mais tarde, no Gondomar, acabaste por concretizar o tal regresso de que falaste, para integrar a equipa sénior da Sanjoanense. Sentiste que seria a montra ideal para as tuas capacidades?

Sim. Estive três anos fora de São João da Madeira e durante esse período fiz pouquíssimos jogos. Pensei que conseguiria algo mais mas no Esmoriz só fiz 6 jogos e no Gondomar só joguei uma vez em dois anos. Aí percebi que o melhor era regressar. Vi vontade nas pessoas que me convidaram, na altura o mister Pêpa e o Luis Vargas, que já encabeçava a direção. Foi o momento certo para voltar a São João da Madeira. Comecei sem jogar, tive que trabalhar bastante e acabei por beneficiar de um momento menos bom do Pedro Justo, que infelizmente se lesionou, para agarrar o lugar. Terminámos o ano como campeões e vencedores da Taça de Aveiro e isso devolveu-me a felicidade e a alegria de jogar futebol que vinha perdendo nos anos anteriores.

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«No último ano em que estive no Gondomar pensei seriamente deixar de jogar futebol»

Durante o período em que representaste o Esmoriz e o Gondomar, alguma vez ponderaste abandonar o futebol?

No último ano em que estive no Gondomar pensei seriamente deixar de jogar futebol. Não estava a ter oportunidades, apesar das várias promessas que recebia do treinador, que durante as conversas que tinha comigo me garantia que ia jogar e me transmitia confiança. Isso deixava-me triste e desmotivado e fez-me ponderar abandonar o futebol.

Sendo a posição de guarda-redes uma das que revela menos alterações, como é que um atleta se supera ao longo de uma época em que é chamado a competir poucas vezes?

A posição de guarda-redes é ingrata e em campo só está um. Não é como ser defesa, médio ou avançado, posições ocupadas por três ou quatro jogadores que as desempenham. Mas quando não jogamos temos que pensar que continuamos a trabalhar para nós e temos que acreditar que a nossa oportunidade vai aparecer. É fundamental manter a confiança. Mas é ingrato trabalhar durante toda a semana e chegar ao domingo e ver que não somos escolhidos…

Fixaste o teu lugar depois de uma lesão do Pedro Justo, num momento que deu início a várias épocas de consistência até hoje. Foi a melhor resposta a uma oportunidade que tanto esperavas…

Sim, é verdade. Foi pena a lesão do [Pedro] Justo mas foi aí que consegui agarrar a titularidade. Mas, até essa altura, custou. Vinha de duas/três épocas quase sem jogar e, à chegada ao clube da minha terra, onde me queria mostrar, deparei-me com a concorrência do Justo, que é também um excelente guarda-redes. Ambos trabalhámos para conquistar o lugar, o Justo começou por levar a melhor mas a lesão acabou por abrir-me as portas para garantir o meu espaço no clube.

Hoje, apesar da juventude, surges como um dos jogadores com mais minutos no plantel. Sendo um atleta da casa e até pela experiência que já tens, consideras-te um dos esteios deste grupo?

Sim. Ao longo da época fui marcando o meu lugar no balneário, no campo e talvez na cidade, entre os adeptos. Fui ganhando o respeito das pessoas. Quando voltei para a Sanjoanense, apesar de ter estado no Esmoriz e no Gondomar, era visto como um miúdo e não como um jogador já batido nestes campeonatos, porque não tinha os minutos que acabei por conseguir aqui. Na Sanjoanense tive a minha oportunidade, fui conquistando o lugar no balneário e comecei a ser visto de outra forma, com mais respeito.

Confessaste, há pouco, que consideras a posição de guarda-redes ingrata. Sentes-te incompreendido?

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«Não deixo de ter um enorme orgulho em defender as balizas. É o que gosto de fazer…»

Sim, sinto-me muitas vezes. E tenho um feitio complicado que me faz explodir dentro de campo, de vez em quando… Quando um ponta-de-lança falha uma oportunidade as pessoas aplaudem-no e motivam-no, quando é um guarda-redes a falhar as coisas são diferentes. Somos o último homem e, se falhamos, colocamos a nossa baliza e a nossa equipa em risco. Se eu escorregar ou se a bola me passar entre as pernas tenho a certeza que vou ouvir assobios ou insultos… Um guarda-redes peca pela posição que desempenha em campo. Mas não deixo de ter um enorme orgulho em defender as balizas. É o que gosto de fazer…

Um dia mau pode ser sinónimo de muitas críticas, como dizes. Como é que um guarda-redes lida com isso?

É verdade… Temos que levantar a cabeça e pensar que a seguir tudo vai melhorar. Os primeiros 5 minutos de jogo são fundamentais para que um jogo corra bem a um guarda-redes. É a altura em que temos a primeira ação, seja ela uma defesa ou um pontapé de baliza. Se correr bem temos a motivação e a confiança necessárias para encarar toda a partida com tranquilidade. Se entrarmos mal e tivermos a pressão dos adeptos, sentimos logo maior insegurança. Mas eu fui crescendo nisso com o tempo e já consigo passar ao lado dos assobios ou dos insultos que me dirigem. É algo que ignoro…

O início desta temporada trouxe bastantes alterações no plantel sénior. Como avalias a adaptação da equipa a este novo contexto?

Vi, desde a pré-época, que teríamos um bom grupo, uma boa equipa, recheada de jovens com muita qualidade, vontade de vingar no futebol e que, apesar da pouca experiência, se mostravam desejosos de aprender cada vez mais. E, sinceramente, com o passar do tempo comecei a sonhar que podíamos chegar à Fase de Promoção e podíamos vir a estar envolvidos na luta pela subida de divisão porque, pelo que vejo este ano, as séries estão menos competitivas. Não o conseguimos e neste momento só pensamos em vencer todos os jogos. Temos essa ambição para que possamos conquistar o primeiro lugar e consigamos garantir uma melhor classificação do que a que conquistámos na última temporada. Esse é o nosso objetivo atual.

Penso que, pela qualidade e motivação que já demonstrámos ter, devíamos ter ido à Fase de Promoção. Mas sinto que podemos ter tido algum excesso de confiança e que fomos afetados pelos primeiros jogos da época no nosso estádio. Isso influenciou-nos bastante…

Apesar de garantido o objetivo da manutenção, acabou por criar-se, realmente, uma meta paralela, que visava o acesso à Fase de Promoção e que, por pouco, não foi alcançado. Como é que a equipa lidou com a desilusão de não o conseguir?

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«Estamos a mais na fase de manutenção», vinca o guarda-redes.

Foi muito complicado… Custou-nos muito perder em Anadia, principalmente de forma tão injusta. Ficámos algo desmotivados porque percebemos que estávamos perto de perder um objetivo que queríamos muito alcançar. Tínhamos ganho aos 90+2’ na recepção ao Lusitano e a derrota fazia com que ficássemos para trás… Mas conseguimos unir-nos e agora, como disse, só temos a vitória na mente, em todos os jogos que disputamos. Não nos passa outra coisa pela cabeça. Estamos a mais na fase de manutenção…

Como disseste, os resultados obtidos nos primeiros jogos em casa acabaram por ter forte impacto na classificação final mas, para além disso, houve ainda o jogo em Anadia. Analisando a frio, qual desses foi, para ti, o fator com maior influência no na classificação final?

Os pontos perdidos em casa. Se não tivéssemos perdido com o Lourosa ou empatado com o Estarreja, ambos nos descontos, e garantíssemos um bom desempenho como o que agora apresentamos, acredito que podíamos ter conquistado o primeiro lugar da série. Acho que esse foi o fator que mais influenciou a classificação final.

Ainda assim, os resultados desta segunda fase são esclarecedores e a Sanjoanense está, neste momento, numa posição muito confortável, tendo garantido já a permanência. Qual é o segredo para o bom momento?

O facto de termos um grupo extraordinário, dentro e fora de campo, que começou a jogar de forma mais solta. Os jogadores ajudam-se muito, têm bastante união e partilham esta ambição de querer vencer todos os jogos. Queríamos garantir a permanência o mais depressa possível e tivemos que trabalhar em conjunto para o conseguir. Hoje já todos se conhecem e sabem a forma de jogar de cada um e, neste momento, os nossos adversários já chegam ao Conde Dias Garcia com muito mais respeito por nós. É notória a união entre esta família que se foi criando.

Em termos individuais, quais são as tuas ambições, no clube e fora dele?

A minha vontade é a de chegar o mais longe possível. Tenho 24 anos e, mesmo sendo difícil, para mim, abandonar o clube, gostava de poder chegar a outros patamares. Mas, acima de tudo, tenho o sonho de representar a Sanjoanense nos campeonatos profissionais. Quero deixar uma marca ainda maior no clube. Fazia parte do plantel que garantiu a subida do Campeonato Distrital e seria muito bonito estar presente numa subida aos campeonatos profissionais. É um dos principais sonhos que tenho…

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«Tenho o sonho de representar a Sanjoanense nos campeonatos profissionais. Quero deixar uma marca ainda maior no clube»

 

És uma das peças-chave da equipa e nunca escondes o amor que sentes pela Sanjoanense. Como a defines, numa palavra?

Numa palavra?… É difícil… É histórica.

E o balneário?

Família.

Para terminar, que mensagem deixas aos adeptos?

Quero pedir aos adeptos que não deixem o clube ir abaixo. Ajudem-nos a continuar com este rumo, apoiem-nos e apoiem a instituição. Todos os sócios e adeptos são importantes para o futuro do clube.

Como disse, tenho o sonho de poder jogar pela Sanjoanense nos campeonatos profissionais e o apelo que faço é que nos ajudem a caminhar nesse sentido. A Sanjoanense tem dias difíceis, é certo, mas não podemos deixar que caia. O apoio tem que ser constante e a aproximação dos adeptos é fundamental. Seria bonito ver o velhinho Conde Dias Garcia cheio e unido no apoio à equipa. Venham ver esta equipa, a vontade e a garra que demonstramos e que, na minha opinião, tem ajudado a devolver a mística do clube. A vontade de vencer e a garra estão sempre presentes. Isto tem um sabor especial!

Fotografia: Daniel Oliveira/ADS