“Quem trabalha assim merece ser feliz”

  • Sanjoanense teve que se adaptar às muitas condicionantes do encontro, não baixou os braços e entrou em 2016 com uma vitória heroica.
  • Triunfo isola alvinegros no segundo lugar.

A frase que compõe o título foi proferida por Flávio das Neves, logo após o encontro, e resume da melhor forma uma vitória arrancada a ferros e que deixou em delírio os cerca de 300 adeptos que, numa tarde de chuva muito intensa, se deslocaram ao Conde Dias Garcia.

Perante um adversário que se sabia de grande qualidade e num terreno bastante pesado, por culpa das adversas condições meteorológicas registadas, a Sanjoanense soube sofrer e adaptar-se às condicionantes e conseguiu garantir os três pontos já no período de descontos, num remate cheio de intenção de Júlio.

O encontro, no entanto, começou com um forte revés para a formação de São João da Madeira. Edwar, na sequência de um passe longo de Fabeta, acabou derrubado por Maló, ainda fora da grande área, num lance que obrigou à saída forçada do extremo, por lesão, e que deveria ter culminado com a expulsão do guarda-redes forasteiro, não fosse a diferente interpretação de Ricardo Bonito, árbitro de Coimbra.

Ciente da importância de um bom resultado, o Lusitano procurava surpreender e, minutos depois, podia ter inaugurado o marcador. Diogo não conseguiu agarrar à primeira um cruzamento desde o lado esquerdo do ataque contrário e, na insistência, Binaia apareceu em boa posição mas rematou ligeiramente ao lado.

Ainda que privados daquele que seria, porventura, o jogador com melhores características para este encontro, dada a forte estampa física que apresenta, os alvinegros não se deixaram abater e a resposta, em dose dupla, não tardaria. Aos 34’, Bruno Almeida, que havia rendido o extremo colombiano pouco antes, cobrou de forma exímia um livre direto que esbarrou numa excelente intervenção de Maló que, no minuto seguinte, voltou a negar o golo alvinegro de forma excecional, com uma defesa de grande dificuldade após cabeceamento de Ronan.

A boa exibição do guardião forasteiro ajudava a segurar o nulo verificado ao intervalo e, para a segunda metade, os visitantes acabariam por surgir mais pragmáticos e objetivos. Mesmo assim, seria a Sanjoanense quem voltaria a ameaçar. Bruno Almeida, depois de boa investida individual, deixou para trás um defesa contrário e serviu Catarino mas o extremo, de primeira, atirou à malha lateral da baliza à guarda de Maló.

Mais esclarecidos que nos primeiros 45 minutos, os visitantes conseguiam atingir com maior perigo o último terço e, pouco depois, Marcel aproveitou uma perda de bola da defesa alvinegra para chegar à grande área local mas, pressionado por Pardal, acabou por rematar já em esforço, sem perigo para Diogo.

Com um relvado muito castigado e um futebol bastante direto de parte a parte, as oportunidades escasseavam e o jogo parecia destinado ao empate, até que, numa altura em que já poucos acreditavam, Júlio tiraria um coelho da cartola. No primeiro de dois minutos de compensação ordenados por Ricardo Bonito, Ruben Neves cobrou um canto no lado esquerdo do ataque e, depois de um desvio de um defesa contrário ao primeiro poste, a bola acabou por sobrar para Júlio que, com um remate desde fora da área, bateu Maló, garantindo três preciosos pontos na luta pelos dois primeiros lugares.

Com este triunfo, a Sanjoanense ascende, de forma isolada, ao segundo lugar da Série D do Campeonato de Portugal Prio, registando agora 25 pontos, mais um que o Anadia, próximo adversário, e dois que o Lusitano.

AD Sanjoanense: Diogo Almeida, Pardal, Fabeta, Ronan Rodrigues, Ricardo Tavares; Júlio, Ruben Neves, Ruben Alves (Edgar, 75’); Catarino (André Pereira, 59’), Edwar (Bruno Almeida, 6’), Ronan.

 

Declarações de Flávio das Neves 

Flávio, uma vitória heroica perante um adversário de reconhecida qualidade e num encontro com condições bastante adversas…

Sim, sem dúvida! Era um jogo crucial para nós e era importantíssimo que o vencêssemos para que continuássemos a manter a fé e a esperança de chegar ao segundo lugar. Defrontámos uma excelente equipa, na minha opinião a melhor no que ao investimento, à qualidade de jogo e à experiência diz respeito mas mal cheguei ao estádio vi que não poderíamos jogar como gostamos, com as ideias que temos vindo a trabalhar ao longo do último mês. Falámos com os jogadores para lhes explicar como se deveriam adaptar a um tipo de futebol diferente, jogado num campo pesado, e eles interpretaram na perfeição o que lhes pedimos. Jogaram um futebol direto, conseguiram colocar a bola no ataque, não a conduziram… E fomos felizes ao conseguirmos o golo da vitória no último minuto. Tivemos a felicidade do nosso lado, o que raramente tem acontecido ao longo desta época.

Disse aos jogadores, antes do começo do jogo, que Deus ajuda quem trabalha e que, apesar de não estarem reunidas as condições para apresentarmos o nosso futebol, poderíamos ter algo reservado para nós. E isso aconteceu. Temos trabalhado muito e esta semana foi um exemplo para todos… Até para mim! Trabalhámos todos os dias numa semana de Natal e Passagem de Ano. Todos os dias! E Deus guardou alguma coisa para eles. Merecíamos ser felizes por todo o trabalho feito! Não sei se os adversários trabalham tanto ou mais que nós… Sei, sim, que esta é uma equipa amadora que trabalhou como profissional ao longo de toda a semana. Os jogadores sacrificaram a Passagem de Ano, descansaram e agora tiveram este prémio, uma vitória que alimenta a esperança e o sonho de continuarmos a lutar pelo segundo lugar. Faltam três jogos, três batalhas e, contrariamente ao que alguns jogadores do Lusitano diziam no final do encontro, nós não estávamos a festejar já o segundo lugar. Estávamos a festejar a vitória no jogo, uma vitória arrancada a ferros, no último minuto e, repito, contra uma excelente equipa. Daí os nossos festejos… Mas isto está muito longe do fim. Faltam três jogos, temos o Anadia e o Lusitano na luta, podem ainda juntar-se outras equipas e, portanto, temos que continuar a somar pontos e vamos já pensar no jogo de Anadia para que possamos fazer tudo para garantir a permanência já no final desta primeira fase.

O plantel demonstrou, realmente, um esforço imenso e trabalhou bastante ao longo da semana para preparar este encontro. O que é que sente um treinador depois de ver tanta entrega durante a semana e, para além disso, ao longo dos 90 minutos de jogo?

Trabalhámos muito durante a semana… Na sexta-feira, durante a palestra que antecedeu o treino, disse aos jogadores que quem trabalha assim merece ser feliz. Sacrificaram as festas e vieram treinar no dia de Ano Novo quando muitos dos seus amigos, da mesma idade que eles, ainda estavam a dormir… Pedi-lhes que viessem treinar e vieram, assim como vieram ao longo de toda a semana. Por isso é que acreditava que algo estava reservado para eles e daí os meus festejos no final do encontro. Os nossos jogadores trabalharam muito e estou muito contente por isso. Fizeram sacrifícios e foram recompensados.

Repito: fomos felizes por termos conseguido marcar no último minuto. Mas convido quem nos acompanha a refletir um pouco e a tentar recordar-se do número de vezes em que a Sanjoanense teve a sorte do seu lado… Hoje tivemo-la, vencemos no último lance do jogo mas a equipa também trabalhou muito e em condições adversas para a procurar. Dou os parabéns aos nossos jogadores e a toda a estrutura da Sanjoanense, principalmente a do futebol, que não me tem faltado com nada e me tem dado um apoio fantástico. Têm sofrido muito pelo clube, sou testemunha disso, e vê-los felizes hoje, no final do jogo, enche-me de satisfação e orgulho.

Mas, como disse atrás, quarta-feira voltamos ao trabalho e vamos preparar de forma humilde e dedicada o jogo de Anadia.

Sabendo, como disse anteriormente, que faltam ainda três jogos para o final desta primeira fase, haveria melhor altura para a Sanjoanense se isolar no segundo lugar e ficar com vantagem no confronto com alguns adversários diretos?

Isto é sempre como acaba, não é como começa… E isto ainda não acabou. Nós ganhámos o direito de continuar a sonhar e a alimentar a esperança de ficar em segundo lugar, mas nada mais está decidido. Temos adversários fortíssimos na luta, que tudo farão para vencer os seus jogos e nós teremos ainda encontros muito difíceis pela frente. No domingo iremos defrontar um adversário direto… Nada está ganho. Uma vitória em Anadia poderia facilitar as contas mas, mesmo assim, ficariam a faltar ainda dois jogos…

Hoje estou muito contente, mais ainda porque conquistámos a terceira vitória consecutiva, algo que ainda não tínhamos conseguido fazer. E, repito, em condições muito adversas, contrárias às características dos nossos jogadores…

Agora há que desfrutar do momento e da felicidade que provocou nos jogadores. Felicidade, essa, resultante da vitória e não de qualquer pensamento de apuramento antecipado…

Apesar da importante vitória, a lesão do Edwar foi um ponto negativo deste encontro. Já há alguma previsão quanto à gravidade da mazela?

Não. Sabemos apenas que foi ao hospital e espero que não seja nada de grave.

Uma lesão logo aos 4/5 minutos, numa jogada de perigo que deveria ter resultado na expulsão do guarda-redes do Lusitano. Percebo que tenha sido difícil arbitrar nestas condições mas tinha que haver expulsão… Tenho que colocar-me na pele do árbitro e tentar perceber a dificuldade de exercer o seu trabalho desta forma mas não tenho dúvidas de que esse lance poderia ter influência direta no resultado, porque era para cartão vermelho.