Minutos finais foram fatais…

  • Sanjoanense teve os três pontos na mão mas permitiu reviravolta nos últimos minutos.
  • Bis de Mauro foi balde de água fria depois de 89’ de bom nível.

Um final de loucos, uma forte desilusão e muita injustiça. Assim se resume um jogo que a quatro minutos do final estava sob aparente controlo alvinegro mas que terminou de forma totalmente inesperada.

Num Estádio do Mergulhão algo despido, e mesmo sabendo de antemão que se tratava de uma deslocação historicamente difícil, a Sanjoanense assumiu as rédeas do jogo mas, depois de 89’ de bom nível, cedeu numa altura crucial, cometendo dois erros que se revelaram fatais.

Com a emoção reservada para a segunda metade do encontro, os primeiros 45 minutos revelaram-se escassos em oportunidades mas, apesar da pouca produtividade, foi a Sanjoanense que mais perto esteve do golo quando, aos 25’, André Pereira acabou derrubado por Bruno Pinto, já na pequena área contrária, num lance punido com grande penalidade. No entanto, chamado a converter, o ponta-de-lança desperdiçou a oportunidade de ouro ao permitir a defesa ao guarda-redes local, não conseguindo desfazer o nulo com que se chegou ao intervalo.

Ainda assim, a falta de eficácia não derrubou os comandados de Flávio das Neves e a segunda parte trouxe maior rendimento e uma Sanjoanense autoritária, a impor as suas ideias, a ocupar o meio-campo adversário e a criar diversas oportunidades.

Edwar, aos 49’, foi o primeiro a ameaçar mas, na sequência de uma boa jogada de envolvência atacante, rematou por cima da baliza contrária, e André Pereira, pouco depois, deu boa resposta a um canto de Ruben Neves, tendo visto o golo negado por uma fantástica intervenção de Bruno Pinto.

Mais perigosa, a Sanjoanense mostrava não se contentar com o empate e a insistência acabou por ser recompensada. Com 69’ jogados, Ruben Alves aproveitou da melhor forma uma combinação entre Chapinha e Edwar e, com um cabeceamento certeiro, deu vantagem à formação de São João da Madeira.

Sem argumentos até então, o Cesarense mostrava muitas dificuldades para furar a defesa alvinegra e parecia resignado perante o claro domínio forasteiro, pautado pela qualidade de jogo e pela excelente circulação de bola apresentadas, e só aos 83’ conseguiu incomodar quando Ruben, servido por Batista, atirou com estrondo à trave da baliza à guarda de Diogo.

A oportunidade, porém, serviu de clique para acordar os locais, que corriam atrás do resultado e ganhavam esperança quanto a uma possível recuperação. E foi já nos minutos finais que o impensável aconteceu. Sem que nada o fizesse prever, e depois de 89’ de bom nível, o coletivo alvinegro cedeu e deitou por terra as aspirações de sair do Mergulhão com o tão ambicionado triunfo.

No último minuto do tempo regulamentar, Mauro aproveitou da melhor forma uma bola bombeada para a área adversária e, perante alguma passividade da defesa sanjoanense, restabeleceu a igualdade com um golo de belo efeito, num movimento de excelência.

Visivelmente consternados e surpreendidos, os homens de São João da Madeira pareciam ter que se contentar com o empate até que, três minutos depois, e para espanto geral, Mauro voltou a atacar. Dando sequência a uma bola bombeada para as costas da defesa alvinegra, o avançado ganhou posição pelo lado direito do ataque e, com um remate cruzado, bateu Diogo, garantindo três pontos importantíssimos na fuga aos últimos lugares.

Apesar do desaire, a Sanjoanense mantém o primeiro lugar da Fase de Manutenção da Série D do Campeonato de Portugal Prio (CPP), com dois pontos de vantagem em relação ao Lusitano, segundo classificado.

Na próxima jornada, os comandados de Flávio das Neves regressam ao Conde Dias Garcia, para a receção ao Oliveira de Frades.

AD Sanjoanense: Diogo Almeida, Pardal, Fabeta, Ronan Rodrigues, Ricardo Tavares, Danilo, Ruben Neves, Ruben Alves, Chapinha (Catarino, 75’), Edwar Lopez, André Pereira (86’).

Declarações de Flávio das Neves:

Sobre o jogo: Foi um jogo muito difícil e com um desfecho frustrante… É difícil perder assim, estou muito desiludido. A equipa teve um comportamento espetacular durante 90 minutos, dominou o adversário e criou situações de golo. As únicas no jogo, diga-se, porque o Cesarense raramente conseguiu chegar à nossa baliza. Falhámos um penalty, fizemos uma excelente exibição, com boa circulação de bola, num terreno onde era muito complicado jogar mas depois tivemos aqueles três minutos finais… E só podemos culpar-nos. Fomos pouco determinados e pouco concentrados em dois lances que começam na grande área do adversário e, do nada, resultaram em golos, numa altura em que o Cesarense nem sequer ameaçava… É mais uma grande lição para nós! Temos que estar concentrados e determinados até ao apito final para que possamos vencer. Fizemos tudo para ganhar, fomos muito superiores ao adversário mas foi o Cesarense que levou os três pontos. E, repito, fruto da nossa inexperiência e da pouca concentração que demonstrámos.

Este ano já tivemos vários episódios semelhantes… Apesar do trabalho desenvolvido e da entrega dos jogadores, a sua juventude fá-los cometer alguns erros e ser capazes do melhor e, por vezes – ainda que não muitas –, do pior. Eles vão crescendo com os erros mas nós estamos na Sanjoanense e não podemos estar sempre à espera disso. Por vezes há que queimar etapas e, nestes momentos, ser mais determinados. Porque a equipa, como já disse, produz um futebol de grande categoria, reconhecidamente melhor que o futebol apresentado pelos adversários. Mas o facto é que falhámos em alguns jogos como este e talvez por isso não tenhamos conseguido garantir o acesso à Fase de Promoção…

No futebol há duas balizas, uma onde devemos marcar golos e outra que devemos defender. E não nos adianta ser muito fortes entre as balizas e dominar o adversário se depois não concretizamos as oportunidades criadas. E nós tivemos alguma falta de eficácia. Não concretizámos e, mais tarde, com o jogo dominado, cometemos erros que colocaram em causa todo o trabalho da equipa. Não foi a primeira vez que isto aconteceu e daí o meu desalento, ainda que mantenha total confiança porque tenho muito orgulho na equipa e na forma como joga. Mas há muito tempo que não me acontecia uma coisa destas… Se calhar houve adeptos que saíram do estádio com a Sanjoanense e chegaram a casa e viram que tínhamos perdido…

Momentos de desconcentração: Nestas situações temos que ser treinadores, pais, orientadores e incutir nos nossos jogadores a exigência que incutimos em nós próprios. E é isso que vou fazer. Não pode voltar a acontecer algo assim! Na primeira jornada pensei que pudéssemos ter dificuldades e os jogadores deram uma excelente resposta e neste jogo voltámos a ter uma produção espetacular, com domínio total no estádio do adversário. Isso permite perceber que a equipa está bem. Mas aqueles minutos finais, com bolas de baliza a baliza, mudaram todo o contexto. Mas não vamos voltar a cair em facilitismos. Domingo temos já um encontro muito importante e que podemos encarar como um dos mais importantes da temporada, porque permitir repor os 8 pontos de distância em relação à linha de água, em caso de vitória. É nisso que temos que pensar. Faltam muitos jogos e temos que estar constantemente em alerta, para que possamos produzir um excelente futebol e o consigamos materializar em pontos. Vivemos de pontos e não de vitórias morais e futebol bonito. Teremos que saber sofrer e, para isso, vamos ter que lutar, estar determinados e concentrados até ao último minuto. Caso contrário, voltaremos a passar por situações que nos penalizam e fragilizam. Mas temos que estar atentos e trabalhar tudo isso. De resto, continuaremos a manifestar confiança aos atletas e fazer com que mantenham o nível de trabalho e de jogo que têm apresentado. Se o conseguirem, estou certo de que continuaremos a ter mais alegrias do que tristezas.

Recuperação do plantel: Para já ainda tenho ainda que me recuperar porque não acredito bem naquilo que vivemos. Mas como líder da equipa vou continuar a transmitir-lhes confiança, apoio e moral, como tenho transmitido até aqui, porque em dois meses e meio vivi, com eles, mais alegrias do que tristezas. Vou abordar os erros cometidos e quero que os jogadores percebam que este jogo já passou e que no domingo teremos que dar uma excelente resposta para que possamos vencer o jogo e normalizar tudo isto. É certo que continuamos na frente do campeonato mas não nos podemos distrair…

Fotografia: Daniel Oliveira/ADS