«Em termos de valor absoluto fomos a melhor equipa da nossa série» – Flávio das Neves

«Quero que os jogadores funcionem como equipa. Uma grande equipa tem que funcionar sempre do ponto de vista do coletivo. As individualidades não ganham jogos… Quero que os jogadores funcionem como equipa e esse é o meu principal objetivo». Esta era a ideia preconizada por Flávio das Neves quando, há cerca de meio ano, surgiu na sala de imprensa do Estádio Conde Dias Garcia para ser apresentado como novo treinador da equipa sénior de futebol da Sanjoanense.

Vinte e um jogos passados, e feito um primeiro balanço, os alvinegros somaram treze vitórias, cinco empates e apenas três derrotas, tendo garantido objetivo da manutenção quando faltavam ainda quatro jogos para o final da competição.

O percurso, bastante tranquilo, tem muito cunho do técnico sanjoanense que, em retrospetiva, não esconde o orgulho, revelando, ainda assim, uma única mágoa: a derrota em Anadia que, com arbitragem muito polémica, constituiu um duro revés na ambição de qualificação para a Fase de Promoção.

«Estou satisfeito com o comportamento da equipa mas, para o pleno, teríamos que ter terminado a primeira fase nos dois primeiros lugares. Os pontos que fizemos na parte final da época seriam, em princípio, suficientes, não fosse o jogo em Anadia, com uma arbitragem bastante polémica que nos tirou um golo limpo, que dava o empate e nos colocava a um pequeno passo da Fase de Promoção. Dentro do campo trabalhámos, fizemos o golo necessário mas acabámos relegados para a Fase de Manutenção», recorda, evidenciando, ainda assim, a qualidade demonstrada pela equipa, apesar das contrariedades:

«Ainda assim, a equipa continuou o bom momento, conseguiu até melhorar as performances e chega a esta altura, quando falta ainda um jogo para o final do campeonato, com 10 pontos de avanço em relação ao segundo classificado. Esta é uma fase muito curta, apenas com 14 jornadas, e o feito é bastante difícil de alcançar. Tanto que somos a única equipa a consegui-lo em todas as séries desta competição. E, lembro, lutámos contra uma equipa como o Lusitano FCV, que tem um orçamento muito superior ao nosso e andou a disputar connosco o acesso à Fase de Promoção até ao último jogo. Fomos a melhor equipa desta série e, apesar de estarmos na Fase de Manutenção, já há muito tempo que a Sanjoanense não assegurava os seus objetivos tão cedo. É algo de que nos orgulhamos muito. E, como disse, só o acesso à Fase de Promoção me teria deixado mais feliz.»

«Assumi a equipa a oito jogos do final da primeira fase e, mesmo assim, consegui que fizéssemos a média de pontos necessária para chegar aos lugares de acesso à Fase de Promoção»

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Flávio das Neves no dia da apresentação. Foto: Daniel Oliveira/ADS

Convidado a assumir os destinos da equipa numa altura conturbada da época, principalmente no que aos jogos em casa dizia respeito, Flávio não largou o sonho de colocar a Sanjoanense na Fase de Promoção, ambição que, em paralelo com o objetivo da manutenção, se foi formando com o desenrolar da primeira fase. No entanto, a derrota em Anadia ceifou as aspirações, algo com que o técnico não consegue, ainda hoje, conformar-se.

«Só assumi a equipa a oito jogos do final da primeira fase e, mesmo assim, consegui que fizéssemos a média de pontos necessária para chegar aos lugares de acesso à Fase de Promoção. No final podemos fazer um balanço oficial mas, por alto, a equipa fez 45/46 pontos desde a minha entrada, o equivalente, em média, a mais de 2 pontos por jogo. Isso era suficiente para que nos apurássemos para a fase em que se disputa a subida de divisão», explica, apontando a influência do seu trabalho e a qualidade do plantel como bases para a consistência apresentada na segunda metade da temporada:

«Eu não posso dissociar a consistência demonstrada pela equipa do trabalho que consegui desenvolver. Os treinadores têm sempre influência, para o bem e para o mal. Mas, neste caso, a consistência apareceu também por causa do lote de jogadores de que dispomos, que é muito bom. Não me canso de o dizer: é, porventura, o melhor grupo que a Sanjoanense teve nos últimos anos. A minha função foi a de o rentabilizar, dando-lhe organização, rigor e harmonia, para que os jogadores pudessem desenvolver as suas capacidades. E o certo é que as nossas exibições têm sido muito elogiadas. Só perdemos três jogos desde que cheguei e esta consistência é resultado de um trabalho conjunto dos atletas, da equipa técnica e da direção, que conseguiu colocar este lote de jogadores à nossa disposição.»

«Em termos de valor absoluto fomos a melhor equipa da nossa série»

No que diz respeito às prestações coletivas e à qualidade evidenciada, a opinião não é nova mas Flávio das Neves não se cansa de a repetir: a Sanjoanense foi, no geral, a melhor equipa em competição na Série D.  Ainda assim, admite, a equipa tinha «potencial para mais», algo que, para o técnico, não tira brilho ao trabalho dos jogadores, a quem tece rasgados elogios.

«Se tínhamos potencial para mais? Claro que sim. Percebi-o logo que assumi o comando. Sei que o lote de jogadores de que dispomos tinha potencial para ter conquistado o primeiro lugar mas, apesar de não o termos conseguido, os nossos atletas continuam a demonstrar o seu valor e são invejados pelas equipas que nos defrontam», vinca, reforçando:

«Já passei por várias equipas de diferentes escalões mas tenho um enorme prazer em trabalhar com esta, no clube da minha terra e com jogadores de qualidade fantástica. Treino-os durante a semana e chego ao jogo com a plena confiança de que vamos vencer. A Sanjoanense está a mais nesta fase. Devíamos estar na Fase de Promoção. Temos no nosso estádio, todas as semanas, departamentos de scouting de equipas de escalão superior e isso deixa-nos muito satisfeitos porque é o reconhecimento da qualidade individual e coletiva de que dispomos. Exijo bastante dos jogadores, sou duro mas eles correspondem e eu sinto que estou a contribuir para o desenvolvimento de cada atleta. Isso é bastante gratificante. Só com excelentes jogadores é que os treinadores conseguem fazer bons trabalhos.»

«Reconheço muito mérito ao Estarreja»

Apesar da opinião vincada e do marcante jogo em Anadia, Flávio das Neves não se revela extremista e, refletindo sobre o contexto competitivo em que a Sanjoanense esteve inserida, acaba por reconhecer mérito aos adversários, especialmente ao Estarreja, dono de uma campanha imaculada.


IMG_7567«Disse, e repito, que em termos de valor absoluto fomos a melhor equipa da nossa série.
Ainda assim, reconheço muito mérito ao Estarreja, que ficou em primeiro com bastantes pontos de avanço e está em bom plano na Fase de Promoção. Mas quando os defrontámos fomos melhores, apesar de não os termos conseguido vencer. Eles foram mais competentes que nós em determinadas alturas e depois era difícil recuperar. São uma equipa com bastante potencial, também, e tiveram argumentos que nós não tivemos.»

Merecedor de elogios é, também, o Lusitano FCV, formação de Viseu que, com forte aposta e largo investimento, lutou ombro a ombro com a Sanjoanense até ao último jogo da primeira fase:

«Defrontámos também um Lusitano FCV que investiu bastante, com excelentes jogadores, muito experientes, e com uma aposta forte e declarada. Ainda assim, nos quatro jogos que fizemos, todos muito renhidos e difíceis, conseguimos superiorizar-nos. Vencemos três e empatámos um e isso foi essencial para que nos conseguíssemos distanciar.»

«Temos que fazer prevalecer a verdade desportiva»

A um jogo do final da época e com muito a ser decidido em relação aos últimos lugares, poucos podiam imaginar um cenário tão apetecível: de um lado, uma Sanjoanense tranquila, num bom momento e com os objetivos garantidos; do outro, um Lourosa aflito e a lutar até ao último segundo pela fuga ao playoff de despromoção.

Um duelo a dois que percorre uma imensa história, com forte rivalidade regional envolvida, e para o qual Flávio das Neves assegura uma equipa preparada, apoiada no prestígio e a verdade desportiva, valores de que o técnico não abdica.

«Falta um jogo para terminar a época e, mesmo tendo os objetivos cumpridos, temos que fazer prevalecer a verdade desportiva. É evidente que poderei fazer algumas alterações, para dar minutos a alguns jogadores menos utilizados mas queremos vencer sempre, para que possamos prestigiar e honrar a Sanjoanense. A cara de quem ganha não é a mesma da de quem perde. Não perdemos há onze jogos e queremos manter o bom momento, independentemente das mexidas que possa vir a fazer. Temos o nome, o prestígio e a honra da Sanjoanense em causa», finaliza.

Fotografia: Daniel Oliveira/ADS