«A Sanjoanense é uma grande família!» – Ronan David

É oficial! Ronan David Jerónimo despediu-se, esta terça-feira, da Sanjoanense, clube que o acolheu para a primeira experiência europeia enquanto atleta sénior.

Depois de meia época em São João da Madeira, o ponta-de-lança decidiu abraçar um novo projeto e, à semelhança de Gian dos Santos, que na última temporada se transferiu para o União da Madeira, passará, agora, a marcar presença nos relvados da Liga NOS, o principal campeonato português de futebol, ao serviço do Rio Ave, com quem assinou um contrato de longa duração.

Com a humildade e disponibilidade de sempre, o jovem brasileiro, que contribuiu com 7 golos nos 19 jogos efetuados pelo clube, não negou uma última conversa, durante a qual abordou toda a experiência, reviveu os momentos passados e refletiu sobre o crescimento enquanto pessoa e jogador.

Sem esquecer o contributo de dirigentes, equipa técnica e adeptos, pessoas que garante levar no coração, Ronan caracteriza a Sanjoanense como uma «grande família» e, apesar do enorme salto na ainda curta carreira, admite alguma saudade no momento da despedida, assegurando, ainda assim, que torcerá por fora pelo sucesso do clube.

Ronan, chegaste a São João da Madeira, proveniente do Grémio, para a primeira experiência na Europa enquanto sénior. Porquê a Sanjoanense?

Tinha ouvido muitas coisas boas sobre a Sanjoanense, os empresários que me ajudaram a fazer esta escolha já conheciam o clube, falaram-me bem dele e explicaram-me que tinha um bom projeto, que visava a luta pela fase de promoção. E o que me foi apresentado agradou-me muito em termos de futuro. Vinha de um tempo parado, sem jogar, e precisava de um período para recuperar e ganhar confiança. E o projeto que me foi apresentado permitia-me isso mesmo, o que se revelou muito importante para a decisão final.

Como foi a adaptação a este novo contexto?

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Fotografia: Daniel Oliveira/ADS

Foi melhor, até, do que aquilo que podia imaginar! Pensei que tivesse mais dificuldades mas acabei por conseguir uma boa e rápida adaptação. O estilo de jogo da equipa ajudou bastante e os meus colegas também tiveram um grande contributo, porque sempre me fizeram sentir bem, dentro e fora de campo. Foi muito bom!

Sentes que a passagem pelo Parma, ainda em idade de júnior, pode ter ajudado na integração?

Sim. O futebol italiano é um bocado diferente do português, é mais marcado pelo contacto e pela força física. Mas essa experiência ajudou a que me sentisse mais confiante. Até pelas questões climatéricas… Enquanto brasileiros não estão tão habituados ao frio e isso pode causar algumas dificuldades. Foi uma experiência muito boa, que me permitiu ter mais tranquilidade aqui em Portugal.

E para além do frio, que já mencionaste, quais foram os principais entraves?

Acho que a grande dificuldade foi mesmo o frio… E ainda não apanhei muito! Isso e o horário, que é um bocado diferente do brasileiro. De resto, a alimentação é excelente e muito parecida com aquela a que estava habituado.

A tua contratação foi muito badalada e acabaste por atrair a atenção de clubes de maior relevo. Esperavas tanto burburinho em torno do teu nome?

Almocei há bem pouco tempo com o meu empresário e, curiosamente, falámos sobre isso… Não imaginávamos que isso pudesse acontecer. A Sanjoanense deu-me muita visibilidade e tenho que agradecer bastante ao clube e às pessoas que dele fazem parte! Sabia que podiam acontecer algumas coisas mas nunca esperei algo a este nível. Recebo contactos regulares de empresários e clubes desde que cheguei e, pessoalmente, isso é muito bom.

És um dos jogadores com mais minutos no plantel sénior da Sanjoanense. Imaginavas-te a assumir um papel de tanto destaque na equipa?

Imaginava que pudesse ter que assumir alguma responsabilidade, pelo currículo que tinha, mas não esperava um papel tão fundamental. Só não fiz 90 minutos em três dos jogos que disputei, sou o jogador que mais minutos tenho e, apesar de já ter vindo preparado para isso, acabei por ficar surpreendido com o número de encontros em que participei.

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Fotografia: Manuel Azevedo/Record

Chegaste com a ambição de atingir a marca de um golo por jogo mas, apesar do bom início, tiveste um período menos produtivo. Sabes apontar alguma razão para esse momento menos bom?

Tive um início bastante bom pela Sanjoanense mas, pouco depois, tive um período sem golos que foi tema de muitas conversas externas ao futebol, o que me atrapalhou um pouco… Mesmo com a maturidade que tenho, acabei por me deixar influenciar. Mas consegui dar a volta e fui apoiado pelos meus companheiros, que me ajudaram a regressar aos golos e a dar o contributo necessário à equipa.

Esse período menos bom terminou, na altura, com o golo marcado ao Bustelo. Terá sido um alívio, certamente…

Sim, estava a precisar de marcar e podia, até, ter feito mais do que um golo. Mas foi um alívio, sim…

Como é que um avançado gere os períodos de menor produtividade?

Toda a gente diz que um avançado não vive só de golos mas eu não concordo. Se a equipa não fizer golos, parte da culpa é do avançado e quando não marcava ia para casa com a sensação de que podia ter feito mais. Mas sabia que tinha feito tudo em prol da equipa. Há dias melhores e outros piores, dias em que as coisas saem naturalmente e outras em que não conseguimos ser eficazes. Temos que saber gerir tudo isso…

Terminas esta experiência com 7 golos em 19 jogos. Uma marca bastante agradável numa época que se previa de adaptação…

Sim, foi bastante agradável. Apesar de ter estabelecido uma meta maior e de ter tido oportunidades para aumentar o número de golos, creio que é uma boa média.

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Fotografia: Manuel Azevedo/Record

Tens apenas 20  anos e as atenções estão, como já foi dito, muito centradas em ti e nas tuas prestações. Quais são as tuas perspetivas de futuro?

São as melhores. Evoluí muito na Sanjoanense e tenho que agradecer ao clube por isso mas espero progredir ainda mais. Tenho muita coisa para mostrar e os próximos tempos serão fundamentais para a minha carreira. Ainda não conquistei nada e um jogador de futebol tem que mostrar-se constantemente, tem que estar sempre a um nível elevado. Sou novo, tenho muito para crescer e aprender e espero continuar a atingir as metas a que me proponho, fazendo golos e ajudando as equipas que vier a representar.

Esperavas valorizar-te tanto e atingir um patamar superior em apenas metade da temporada?

Não, não esperava… Esperava valorizar-me, sim, mas, depois de um ano sem jogar, pensei que teria uma adaptação mais lenta e um rendimento mais demorado. Mas vim para cá focado, com vontade de trabalhar, conquistar o meu espaço no futebol e ser reconhecido por tudo o que faço dentro de campo. E, graças a Deus, tive momentos excelentes!

Em tempo de despedida, que recordações levas da cidade e do clube?

As melhores possíveis! Encontrei pessoas espetaculares, verdadeiros pais que me ajudaram nos momentos difíceis, em que sentia falta da família. Fui bem tratado desde o primeiro dia e vou sentir muita falta e saudade de tudo isso! É muito difícil encontrar pessoas assim no futebol… Este é um clube pequeno mas gigante, com pessoas com coração enorme! Por vezes, no Brasil, temos problemas com adeptos, há falta de segurança, não podemos sair de casa e tanto nós como a nossa família acabamos por sofrer com isso. Aqui não tive nenhum problema!

Vês a Sanjoanense como uma grande família?

Sim, criei aqui uma grande família! Já passei por bastantes balneários e este foi um dos melhores que encontrei! Quando alguém tem um problema, todos se juntam para o resolver…Todos se apoiam e isso é o mais importante no futebol.

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Fotografia: Daniel Oliveira/ADS

Qual foi, para ti, o momento mais marcante ao serviço da Sanjoanense?

Foi o jogo contra o 1º de Dezembro, em que tive a experiência de ir para a baliza. É algo que vai estar, certamente, no meu livro… É uma coisa que não vou esquecer! Nunca tinha passado por isso, foi uma experiência incrível, que me vem à memória com muita regularidade e que, ainda hoje, é difícil de descrever.

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Fotografia: Daniel Oliveira/ADS

E o golo que mais prazer te deu marcar?

O golo que marquei ao Cesarense, em Cesar. Era um jogo em que já se falava da minha saída, que podia significar a minha despedida e no qual entrei com a ideia de que tinha que marcar. Era obrigatório que as coisas me corressem bem, para que pudesse deixar saudade pela pessoa e pelo jogador que sou…

Numa palavra, como defines a Sanjoanense?

Enorme!

E o plantel sénior?

Família!

Para terminar, que mensagem deixas aos adeptos?

Quero deixar um abraço para todos e agradecer-lhes por tudo! O futebol não é só o que acontece dentro de campo e o que é feito fora das quatro linhas é muito importante para que um jogador possa render e estar sempre bem. E na altura em que estava menos bem tive muito apoio dos adeptos, dos dirigentes e de todos os meus companheiros de equipa, o que se revelou muito importante!

Deixo um grande e forte abraço para todos! Espero um dia voltar e garanto-vos que, mesmo longe, vou estar sempre a torcer pela Sanjoanense, que é um clube que merece muitas coisas boas e merece estar lá em cima!