João Edgar, 22 anos, é um rosto bem conhecido do futebol da Associação Desportiva Sanjoanense. Defesa central da equipa sénior, representa o clube desde que se iniciou na modalidade e deixa transparecer o orgulho pelo concretizar de um sonho de criança: o de jogar pela formação principal, no Conde Dias Garcia.
Caso único no plantel alvinegro, o jovem está há mais de uma década no clube, de forma ininterrupta, e mantém-se fiel ao emblema da cidade, apesar das várias propostas que recebeu ao longo da ainda curta carreira.
Diz ser feliz na Sanjoanense e, à entrada para a segunda fase do Campeonato Nacional de Seniores, não tem dúvidas: a manutenção vai passar de objectivo a realidade.
Nunca representaste um clube que não fosse a Sanjoanense. Tem sido uma opção pessoal ou nunca surgiu a oportunidade para uma mudança?
Já surgiram várias propostas mas tenho sempre presente que a Sanjoanense é um clube grande e que, ao nível do nosso distrito, há poucos clubes com as nossas condições e com adeptos como os nossos. É sempre gratificante jogar na Sanjoanense. É o emblema que represento desde pequeno, nunca tive outra experiência e é um orgulho, para mim, pertencer aos quadros do clube.
Numa palavra, como defines a Sanjoanense?
Grandiosa. Há muitos adjetivos que poderiam definir o clube… A Sanjoanense é histórica, grandiosa!
Tendo feito toda a tua formação na Sanjoanense, tinhas o objetivo de, um dia, conseguir chegar à equipa principal?
Sim. Agora talvez seja diferente e os miúdos já não tenham esse objetivo mas, na minha altura, chegava aos seniores um jogador em cada cem e nós sempre trabalhámos, desde muito novos, para o conseguir. Quando era mais novo era «apanha-bolas» no estádio, via todos os jogos e sempre acompanhei a Sanjoanense, em casa e fora. Os meus ídolos eram os seniores. Se pudesse ir ao balneário, ia, se pudesse ser «apanha-bolas», lá estava eu… Na altura a Sanjoanense disputava a 2ª Divisão B, com Oliveirense e Feirense, e era um sonho enorme e um objetivo para todos os jovens chegar à equipa principal. Trabalhei até hoje e consegui esse objetivo.
Depois de mais de uma década a representar a Sanjoanense, qual a tua opinião em relação ao desenvolvimento do clube?
Penso que o projeto do Mister Pêpa está a correr bem. Ao serviço da Sanjoanense, já subi, já desci e já consegui a manutenção e acho que agora o clube está no bom caminho, a apostar na «prata da casa», sem grandes gastos, o que é importante para que não entremos em loucuras. Mas penso que estamos no caminho certo. Tínhamos um projeto de quatro anos que envolvia a subida ao Campeonato Nacional de Seniores e acredito que, dentro de dois ou três anos, caso os objectivos se mantenham e tendo em conta a nossa forma de trabalhar, podemos atingir outros patamares.
Nos últimos anos, a aposta na formação tem sido realmente muito grande. Sentes que, independentemente do clube, esta é uma medida fundamental e precisa para valorizar o jovem atleta?
Sim, sem dúvida. Temos uma formação com grande qualidade, a maioria dos escalões disputam campeonatos nacionais e não se notam grandes diferenças quando os jovens chegam à equipa sénior. Isso é sinal de que temos muita qualidade na formação e de que o clube tem todas as condições para apostar nos miúdos.
Alguém teve, um dia, que apostar em mim e nos outros jogadores que, como eu, estão no plantel sénior e a pessoa que aqui está é a indicada porque aposta nos jovens. Não é qualquer treinador que lança miúdos de 16 anos… E não é quando estamos a ganhar confortavelmente. Lança-os até quando estamos a perder e eles acabam por ajudar-nos porque são da casa e sentem a camisola e, acima de tudo, querem ajudar e dar o melhor para o clube.
Durante as tuas primeiras épocas como sénior não tiveste muitos minutos mas conseguiste assumir-te este ano na equipa principal. Qual foi o segredo para que não te deixasses ir abaixo?
Isso é o futebol… Hoje estamos bem, amanhã não sabemos. Mas são situações complicadas. No meu primeiro ano consegui ter mais de 1000 minutos mas no segundo tive que aguentar-me com 300… Mas consegui ter, da parte do treinador, um feedback positivo e o que retirava de tudo isso era para aprender. Há que saber aguardar e isso ajudou-me muito no futuro. Nós temos etapas na vida e temos primeiro que aprender a estar num plantel sénior, que é muito diferente do que vivemos na formação. E há miúdos que não conseguem ter essa interpretação do futebol. Temos que esperar pela nossa oportunidade e, aí sim, demonstrar que merecemos a confiança.
Foi assim que comecei a jogar… Eu era a 3ª opção, houve lesões no plantel e tive que ir lá para dentro num jogo contra o Oliveira do Douro, nervoso, ainda com 17 anos, em idade de júnior de primeiro ano.
É preciso ter calma, trabalhar e acreditar sempre no próprio potencial porque, já diz o ditado, «quem espera sempre alcança». Os miúdos que esperam chegar à Sanjoanense e jogar têm que perceber que isso não é algo fácil de conseguir. Há jogadores com muita experiência, já batidos no futebol, e há que ter calma e paciência e continuar a trabalhar porque é aí que está a chave do sucesso.
A Sanjoanense vai disputar a fase de manutenção do Campeonato Nacional de Seniores. Pelo que conheces dos adversários, qual será a chave para que a equipa assegure o objetivo da manutenção?
Em primeiro plano, temos que ser uma equipa em termos de grupo e de ambiente e temos todos que remar para o mesmo lado. No ano passado conseguimos a promoção porque tínhamos um grande grupo e essa é a imagem da Sanjoanense, porque quem vem para cá não vem por dinheiro. Se vêm para a Sanjoanense, é porque gostam da mística do clube e porque sentem que a Sanjoanense está a mais neste patamar. Penso que só conseguiremos alcançar a manutenção se todos trabalharmos para que isso possa acontecer. Temos que ser solidários, trabalhar de forma unida e entrar para o campo com uma saúde e uma vontade de vencer inigualáveis.
Temos agora alguns reforços, conseguimos ter pessoas para ajudar, depois de momentos muito complicados por que passámos esta temporada – chegámos a ter 12 jogadores para treinar, houve muitas lesões e tínhamos que recorrer aos juniores – mas penso que tudo isso só serve para nos fortalecer. Mesmo com dificuldades conseguimos ter bons resultados e, se num momento mau conseguimos esses resultados, não tenho qualquer tipo de dúvida de que vamos conseguir a manutenção.
Como é que o balneário enfrentou e superou as condicionantes ao longo da época?
Temos um bom grupo e pessoas que realmente percebem a mística do clube. Uns acabaram por sair porque não tinham tantos minutos, outros não podiam dar o contributo por terem lesões e, aí, tivemos que juntar tudo e todos para ultrapassar qualquer problema.
Em termos pessoais, que perspectivas tens para o futuro?
Essa é uma pergunta um bocado difícil… As minhas expectativas são as melhores mas o que posso dizer é que para já estou cá e que tenho o meu pensamento a 100% no clube que mais amo. Amanhã não sei se estou cá, se me querem ou se terão outros projetos, mas estou a 100% na Sanjoanense, com toda ambição de garantir a manutenção, que tenho a certeza que iremos conquistar. O amanhã, só Deus sabe… Mas vou continuar a trabalhar para conseguir cada vez mais porque tenho como objetivo chegar a um patamar superior. Se for com a Sanjoanense, melhor, esse era o meu grande objetivo. Senão, tudo vai depender de possíveis propostas que possa receber.
Para além de jogador, acumulas a função de treinador de uma equipa de formação do clube. Que conselhos dás a todos aqueles que querem chegar um dia à equipa sénior?
O primeiro conselho que lhes dou é que continuem a trabalhar, porque a qualidade, pelo que vejo, felizmente é muita. Mas é preciso que os miúdos tenham cabeça para continuar a trabalhar e ultrapassar certas dificuldades, porque nem sempre têm as melhores condições para treinar. Mas noto neles um orgulho enorme em terem um treinador da equipa sénior e, por vezes, chegam a perguntar-me o que é preciso para lá chegar. O que lhes posso dizer é que continuem a trabalhar e acreditem no próprio potencial, sempre com humildade, que é a grande chave para o sucesso. E procuro encorajá-los a chegar mais longe. Vejo potencial para que cheguem ao topo e é isso que lhes desejo.
Para terminar, que mensagem deixas aos adeptos?
Só quero pedir que estejam connosco nos momentos bons e nos momentos menos bons. E tenho que deixar um agradecimento especial à Força Negra. Sabemos que é difícil para eles e é muito difícil para nós. Mas nunca deixaram de nos apoiar, em casa e fora. Estiveram sempre presentes e, para nós, é um orgulho imenso que nos apoiem, mesmo quando os resultados não correspondem ao esperado.
Contem connosco, da mesma forma que esperamos contar com vocês. Tudo faremos para conquistar vitórias mas também esperamos que estejam do nosso lado, para que no fim possamos festejar, todos juntos, a conquista dos nossos objetivos.
Pedro Fernandes
Fotos: Daniel Oliveira