«Somos bastante unidos dentro e fora de campo» – Ricardo Pinho

Ricardo Pinho é um atleta com créditos firmados no andebol sanjoanense. Capitão e uma das grandes referências da equipa sénior da modalidade, o lateral esquerdo/direito e central conversou com o nosso site e percorreu o passado, o presente e o futuro de uma carreira sólida, revivendo experiências e refletindo sobre o contexto da modalidade no clube e no panorama nacional.

Natural de São João da Madeira, foi na cidade que deu os primeiros passos no andebol, já depois de experiências goradas no basquetebol e futebol.

Ao serviço da Sanjoanense, foi campeão nacional da 2ª Divisão de juniores e da 3ª divisão de seniores, tendo-se assumido como figura de proa depois de passagens por Gaia e Avanca, clubes em que disputou o correspondente à 1ª e 2ª divisões nacionais, respetivamente.

Aos 35 anos, capitaneia um grupo que tem a união como ponto forte e, apesar de assumir que o final da carreira já não está longe, garante que continuará a fazer o que mais gosta enquanto o contexto pessoal e profissional e a capacidade física o permitirem, procurando ajudar a equipa na conquista dos objetivos propostos.

Ricardo, antes de mais, por que razão optaste pelo andebol?

Antes de chegar ao andebol passei também pelo basquetebol e pelo futebol. Mas foi através de um grande amigo… Ele chamou-me, convidou-me a experimentar a modalidade e foi no andebol que acabei por me sentir melhor, principalmente em termos de acolhimento. Senti-me bem, gostei e continuei até hoje.

Fizeste a tua formação na Sanjoanense e passaste, depois, pelo Gaia e Avanca…

Sim, fiz toda a minha formação na Sanjoanense, sagrei-me campeão nacional da 3ª Divisão pelos seniores e aí dei o salto para o FC Gaia, que na altura estava na Divisão Elite, que correspondia à atual 1ª Divisão. Entretanto regressei à Sanjoanense e, mais tarde, voltei a sair, desta vez para o Avanca, onde estive durante três épocas.

Como foi a experiência de jogar em campeonatos superiores?

Foi uma sensação muito boa porque é para isso que todos nós trabalhamos. Queremos jogar ao mais alto nível e a sensação que tive quando experimente a Liga Elite, no Gaia, foi muito gratificante, muito boa. Adorei e só tenho pena de não ter conseguido manter o nível de competição. Mas foi uma experiência excelente. Essa foi, aliás, uma das melhores épocas que tive até hoje.

O nível competitivo e o ritmo são muito diferentes?

Sim, são… A exigência é completamente diferente, temos que trabalhar muito mais e em termos físicos e técnicos nota-se uma grande diferença de umas divisões para as outras.

Entre os títulos que já conquistaste destacam-se os de campeão nacional da 2ª e 3ª Divisão e o de campeão nacional da 2ª Divisão de Juniores. Qual é, para ti, o melhor momento/feito da tua carreira?

O melhor feito, até aqui, foi, sem dúvida, a conquista do campeonato nacional da 2ª Divisão. Por outro lado tenho outra conquista especial, que guardo com muito carinho, que é a conquista do campeonato nacional da 3ª Divisão pela Sanjoanense, que é o meu clube de coração. São as duas experiências que mais me marcaram ao longo da minha carreira.

E o pior, consegues distinguir?

O pior… Sinceramente, não me posso queixar. Não tive momentos muito maus… A não ser um episódio que me deu uma suspensão de oito meses. Esse terá sido o pior momento da minha carreira porque impediu-me de competir e fazer aquilo de que gosto.

O que é que um jogador habituado a competir sente ao ficar de fora durante tanto tempo?

Não é fácil… Já ficar um jogo de fora e ter que vê-lo da bancada é complicado, quanto mais oito meses… Foi muito difícil mas tive que arranjar força e motivação para continuar a treinar e a trabalhar para estar apto quando ficasse disponível.

Qual é a tua principal referência no andebol nacional?

O Tiago Rocha. Para mim é um grande exemplo como atleta. Deu agora o salto para o estrangeiro, está a jogar a Liga dos Campeões e é, sem dúvida, o meu maior exemplo no que aos atletas nacionais diz respeito.

E no panorama internacional?

O Karabatic, que ainda é um excelente jogador, que compete ao mais alto nível, e o Balic, um central da Croácia. São dois excelentes tecnicistas que sempre admirei.

A equipa de andebol da Sanjoanense caracteriza-se, nas últimas épocas, pela consistência em termos de jogadores, sofrendo poucas alterações e sendo constituídas atletas que conhecem o clube. Acreditas que isso promove um projeto cada vez mais sólido?

Sim, acho que o que nos falta – e tem sido, a meu ver, mais bem trabalhado nos últimos tempos – é o desenvolvimento da formação, para que no futuro tenhamos uma equipa sénior bastante competitiva. Hoje, no que diz respeito ao escalão sénior, já vemos muitos atletas da casa – quase 90% – mas falta-nos trabalhar as bases para que, daqui a uns anos, possamos ter uma equipa que possa lutar ao mais alto nível.

Numa modalidade que não tem tanto poder em termos financeiros, o aproveitamento da formação torna-se essencial?

Sim, sem dúvida. Neste momento, se quiséssemos ter os seniores na 1ª Divisão, teríamos que ir buscar jogadores de fora da cidade e não temos capacidade financeira para o fazer. A solução passa por trabalhar bem as camadas jovens e criar atletas para que, num futuro próximo, possamos ter o clube no topo.

A união é o ponto forte da equipa sénior de andebol?

Sim, claramente. Somos bastante unidos dentro e fora de campo e isso reflete-se nos resultados que temos vindo a conquistar.

Sentes que o facto do andebol, em São João da Madeira, ser praticado com base no gosto pela modalidade e pelo clube enaltece cada feito conquistado?

Sim… Todos nós estamos cá por amor à camisola e o nosso esforço, não sendo valorizado em termos financeiros, transmite-nos uma sensação única. Andamos cá por gosto, por amor à camisola, gostamos de ganhar e sentimo-nos muito honrados por poder representar a Sanjoanense.

Quais são os principais objetivos para a presente temporada?

O principal objetivo é a manutenção e, depois disso, tentar ficar entre os três primeiros e garantir o acesso à fase final.

O Nuno Batista apontou, no início da época, os três primeiros lugares como objetivo. Ao fim de uma volta, e tendo em conta que a diferença entre o 2º e o penúltimo lugar é de 10 pontos, a segunda volta promete ser emotiva…

Sim, é para isso que trabalhamos todos os dias. É verdade que começámos mal o campeonato mas, neste momento, passámos uma fase em que obtivemos quatro vitórias consecutivas, o que nos dá bastante motivação para trabalharmos cada vez mais e melhor. Agora, nós estamos focados no principal objetivo sem esquecer a possibilidade de acesso à fase final. Vamos por objetivos, tentando ganhar jogo a jogo para garantir a manutenção mas sem deixar de olhar para o objetivo seguinte. Está perfeitamente ao nosso alcance e acho que se continuarmos a trabalhar bem é um objetivo perfeitamente alcançável.

Como capitão, que ensinamentos e conselhos procuras transmitir aos teus colegas de equipa?

O que tento transmitir é, acima de tudo, o meu exemplo em campo. Tento dar o meu melhor, quer nos jogos quer nos treinos, e como não sou tão bom com as palavras opto mais por transmitir-lhes o meu exemplo, com a garra, a luta e a entrega que imprimo nos treinos e nos jogos.

Ricardo Pinho
Ricardo Pinho no Pavilhão Municipal das Travessas, “casa” do andebol sanjoanense

Tens ligação aos atletas mais novos? Que lições tentas transmitir-lhes?

Sim, já tive oportunidade de treinar as camadas jovens e foi uma experiência de que gostei muito, foi bastante gratificante. Tento mostrar-lhes que têm que trabalhar e fazer sacrifícios no presente para que possam ser melhores no futuro.

Vês-te como uma referência?

Sim, sinto que as pessoas veem em mim uma referência. Veem-me como uma referência do andebol sénior e, como é lógico, tento dar um bom exemplo todos os dias.

Como conhecedor do atual contexto da Sanjoanense, acreditas que o Clube possa, no futuro, vir a ter o andebol no topo da modalidade em Portugal?

Olhando para a atual situação financeira do clube e para o contexto do andebol, não creio que a curto prazo seja possível. Mas mantendo-se o bom trabalho que tem sido feito ao nível das camadas jovens e utilizando esse trabalho para fortalecer a equipa sénior no futuro, é possível colocar a Sanjoanense ao mais alto nível. Esse é um dos meus sonhos…

Quais são, na tua opinião, os maiores entraves ao desenvolvimento da modalidade no nosso país?

O andebol é visto maioritariamente como modalidade amadora e isso é, naturalmente, um grande entrave. Para além disso, as empresas e patrocinadores não são tão abundantes como noutras modalidades e isso não permite que o andebol tenha um desenvolvimento tão notório. A questão financeira é, talvez, o fator de maior peso.

Acreditas que possa vir a ser possível viver do andebol em Portugal?

Se isso acontecer não será num futuro próximo. Acho que é difícil… O que acontece, hoje em dia, é que só os jogadores dos grandes clubes como Benfica, FC Porto ou Sporting conseguem fazer uma carreira profissional. Há outros atletas que podem consegui-lo também mas já com maior dificuldade. Tudo passa pela questão financeira…

Quais são os teus planos para o futuro?

Eu já estou mais em final de carreira mas continuarei a jogar enquanto a minha vida pessoal e profissional e a minha condição física permitirem. E também enquanto sentir que continuo a ser útil à equipa… Quando terminar a carreira, talvez opte por uma carreira de treinador para poder transmitir tudo o que aprendi até hoje aos mais jovens. É o meu objetivo…

Como defines, numa palavra, a Sanjoanense?

Numa palavra?… Única.

E o balneário?

Família.

Por fim, que mensagem deixas aos adeptos?

Quero deixar-lhes o meu agradecimento e pedir continuem a apoiar-nos como até aqui ou, se possível, cada vez mais. Isso é muito importante para nós e temos uma força maior quando estamos dentro de campo e sentimos o apoio dos adeptos. Dá-nos ainda mais vontade de ganhar e, se continuarmos a ter apoio, certamente que conseguiremos mais e melhores resultados.