Rude golpe…

  • Penalty muito duvidoso na origem do único golo do encontro.
  • Sanjoanense esbarrou na enorme coesão defensiva do Estarreja.

Num dos jogos grandes da 12ª jornada da Série D do Campeonato de Portugal Prio (CPP), a Sanjoanense viu-se desde cedo em desvantagem e, apesar de ter jogado grande parte do tempo em vantagem numérica, não conseguiu dar a volta ao encontro, tendo esbarrado na forte organização defensiva da formação de Estarreja.

Cientes da importância do jogo, tendo em conta que não venciam há já três encontros, os homens de São João da Madeira entraram a dominar mas, logo aos 10 minutos, sofreram um forte revés. Marcelo Santiago, lançado desde a esquerda, tentou passar por Diogo Almeida mas o guardião, com uma defesa fantástica segurou o esférico. André Neto, porém, teve diferente interpretação do lance e assinalou grande penalidade que o mesmo Marcelo Santiago, chamado a converter, não perdoou.

Em desvantagem, os comandados de Flávio das Neves procuraram rapidamente o empate e, pouco depois, acabariam por ficar em vantagem numérica. Num rápido contra-ataque, Catarino lançou Ronan, e o avançado acabou travado por André Costa, numa altura em que seguia isolado para a baliza contrária. André Neto não teve dúvidas, assinalou a respetiva falta e deu ordem de expulsão ao guarda-redes, não tendo, porém, atribuído a lei da vantagem, num lance de clara oportunidade de golo para os alvinegros.

Ainda assim, o Estarreja mostrava capacidade de adaptação às condicionantes do jogo e, apoiado numa estratégia de contra-ataque, voltou a visar a baliza alvinegra mas Marcelo Santiago, o grande destaque dos locais, não conseguiu, por duas vezes, acertar com o alvo.

Na resposta, Ronan tentou também a sorte mas, após bom trabalho individual, rematou ligeiramente por cima da baliza à guarda de João Oliveira, que substituíra André Costa aquando da expulsão.

Com investidas rápidas pelas alas, a Sanjoanense tentava chegar com perigo ao último terço e, na sequência de um desses lances, Chapinha acabou derrubado por Carela, que já tinha visto cartão amarelo. Sem hesitar, André Costa dirigiu-se ao defesa local que, fora de si, tentava recolher explicações junto de um dos árbitros auxiliares. A situação, no entanto, acabou por ficar algo descontrolada e Carela teve mesmo que ser afastado, recebendo cartão vermelho direto.

Em vantagem numérica mas em desvantagem no marcador, a Sanjoanense assumia com naturalidade os riscos do jogo e, aos 40’, Ronan teve na cabeça o empate mas, a cruzamento de Catarino, atirou à figura de João Oliveira.

O intervalo chegou pouco depois e com polémica à mistura, já que André Neto apenas prolongou o encontro por 2 minutos, período claramente escasso para a quebra de tempo útil de jogo registada na primeira metade.

Ainda assim, a Sanjoanense regressou dos balneários determinada em dar a volta ao resultado e apoiada numa estratégia nitidamente atacante, com Flávio das Neves a preterir de Fabeta e a lançar André Pereira para o apoio a Ronan.

Mas foi dos pés do brasileiro que saiu a primeira oportunidade dos segundos 45 minutos. Novamente servido por Catarino, Ronan visou a baliza mas viu o golo negado por uma defesa apertada de João Oliveira.

A resposta, porém, chegaria em dose dupla. Marcelo Santiago, primeiro, arrancou pelo lado esquerdo e atirou à malha lateral e, pouco depois, Fred, na cobrança de um livre direto, falhou por pouco o alvo.

Mesmo assim, era a Sanjoanense quem mandava e, aos 58’, esteve muito perto do empate. Catarino cruzou desde a direita, Ronan não conseguiu o cabeceamento e André Pereira, já na pequena área, falhou por centímetros o golo, depois de a bola desviar no relvado algo irregular.

A apostar no contra-ataque e nas bolas paradas, o Estarreja chegava a espaços ao último terço e, minutos depois, Fred voltou a criar perigo mas o remate, na cobrança de um livre direto, esbarrou na boa intervenção de Diogo.

A ficar sem tempo, a Sanjoanense tudo tentava para inverter o rumo dos acontecimentos mas tinha pela frente uma defesa muito coesa e fechada, que cedia poucos espaços e raramente se desorganizava. A solução, por isso, podia estar na longa distância mas nem assim a sorte protegeu os alvinegros, já que, no último suspiro, Júlio armou um forte remate mas, com João Oliveira batido, viu a trave negar-lhe o empate.

A derrota é um rude golpe nas aspirações da Sanjoanense que desce, agora, ao 5º lugar, ficando a quatro pontos dos lugares de promoção.

Na próxima jornada, os comandados e Flávio recebem o rival Bustelo.

Declarações de Flávio das Neves*

Flávio, um jogo atípico e ingrato, com um penalty mal assinalado e em que a Sanjoanense, apesar de ter jogado muito tempo contra 9, não conseguiu superiorizar-se ao Estarreja. Que análise faz à prestação da equipa?

À primeira vista, e depois de acabar o jogo, o que as pessoas dizem é que jogámos contra 9 e não conseguimos vencer… No entanto, sem querer desculpar nada, acho que devemos ter atenção a alguns factos evidentes. Logo aos 5 minutos, há uma grande penalidade mal assinalada. Já tivemos oportunidade de rever o lance, através da gravação em vídeo, e a grande penalidade é inacreditavelmente mal assinalada. Isso, contra uma equipa como a nossa, que estava à procura do resultado defrontar um adversário que tinha nove pontos a mais, que estava confortável na classificação, era a pior coisa que nos podia ter acontecido. Mas é algo objetivo que tem que ser analisado.

De seguida, outro lance de bola corrida, o Ronan isola-se, o guarda-redes derruba-o, a bola sobra, estão três jogadores da Sanjoanense na direção da baliza, prontos para fazer golo e o árbitro marca falta e expulsa o guarda-redes. Não devia… Devia ter dado a lei da vantagem, devia ter esperado para ver o que o lance podia dar. Tinha que o fazer! A Sanjoanense acabaria por fazer golo e aí sim, mostraria o respetivo cartão ao guarda-redes. Vermelho, amarelo, o que quisesse… Foi das primeiras vezes que desejei que um adversário não fosse expulso. Já vimos as imagens, são lances objetivos e inequívocos. Ao fim de 15 minutos, com uma equipa de jovens, a precisar de ganhar pontos, estávamos a perder por um golo quando podíamos estar a vencer. Isso deu origem a grande instabilidade nos jogadores.

Depois disso houve ainda outra expulsão e, a partir daí – e eu estou à vontade para falar disto porque nunca fui expulso, sempre respeitei as pessoas e ainda na semana passada empatámos com o Oliveira de Frades e o árbitro foi o melhor em campo – acabámos por ficar condicionados. Eram permitidas todas as entradas faltosas sobre os nossos jogadores, os adversários ficavam no chão 4 a 5 minutos em cada lance, o massagista entrou vezes sem conta… Tudo contabilizado, tivemos cerca de 20 minutos de tempo útil de jogo, algo nunca visto. E aí entra o nosso trabalho. Nos poucos minutos em que conseguimos jogar, podíamos e devíamos ter feito mais. Mais como? Ter materializado em golo as oportunidades e situações de perigo de que dispusemos. Penso que fomos cerca de dez vezes à linha, por ambos os lados. Foram muitos os cruzamentos, o Ronan conseguiu cabecear cinco ou seis vezes, tivemos bolas no poste… Com o pouco tempo de jogo permitido, a quebra de ritmo sistemática e o aumento da ansiedade, não estivemos nada mal ao conseguir criar tantas oportunidades.

Tudo isto explica o resultado final… A culpa é nossa porque não conseguimos ser competentes para alcançar o golo, quando fomos muito superiores ao Estarreja, mas aqueles que dizem que não ganhámos nem a jogar contra 9 devem lembrar-se que jogámos contra 9 porque obrigámos o Estarreja a fazer faltas. E se fossem cumpridas todas as leis de jogo, acabávamos a jogar contra 7! No entanto, não foram cumpridas. Aliás, foi dito aos nossos jogadores que não seriam assinaladas faltas a nosso favor na segunda parte. E foi-lhes dada ordem para não se encostarem, sequer, aos adversários, para que eles não ficassem no chão a receber assistência e a queimar tempo.

O que aconteceu foi mau, feio. Não tivemos jogo, não pudemos jogar… Agora, não podemos também fugir às responsabilidades e, volto a dizer, no tempo de jogo que tivemos entra a nossa falta de competência por não termos conseguido materializar em golo as diversas oportunidades de que dispusemos.

A ansiedade foi a principal barreira que separou a Sanjoanense do golo?

Foi. Mas estamos a falar de uma equipa de miúdos que aos 20 minutos está a perder com um penalty inexistente, lhe é tirado um golo limpo e, de seguida, ainda se depara com antijogo e violência do adversário… Se fossem jogadores com mais maturidade reagiriam de outra maneira mas os nossos atletas continuaram a lutar, à procura do resultado. E nestes dois jogos em que estou à frente da equipa criámos dezenas de oportunidades de golo. Temos um caudal ofensivo muito grande e não permitimos que o adversário chegue, sequer, à nossa baliza. Mesmo nos particulares, só sofremos golos através de grandes penalidades. Isso demonstra a solidez e a excelente organização da equipa, mesmo em situações de adversidade, como foi o caso.

Tem-nos acontecido tudo… Aliás, têm acontecido muitas coisas estranhas desde há um tempo para cá!

Este jogo será lembrado com alguma frustração, certamente… Como é que se procura recuperar o plantel depois de um resultado destes?

É esse o meu trabalho e o dos meus adjuntos. Temos que passar uma palavra de alento e confiança aos jogadores porque eles não podem ter dúvidas de que são os melhores jogadores e estão na melhor equipa desta série. Se a equipa não tem conseguido vencer, há de o fazer. Falo apenas pelos meus dois jogos e posso dizer que estamos a jogar muito. Os jogadores têm muito potencial e trabalham muito bem. Mas durante a semana não há árbitros, não há pressões, não há enxovalhos do público…Treinam bem e bastante. Mas ao fim-de-semana tudo lhes cai em cima. Ainda assim eles lutam muito e dignificam a camisola da Sanjoanense e eu tenho um orgulho muito grande em ouvir as pessoas a dizer que a equipa joga bem. Isso vai ao encontro do que tenho dito sempre: temos o melhor lote de jogadores dos últimos anos. Eu só posso estar ao lado deles e tentar transmitir-lhes cada vez mais apoio e confiança.

Fotografia: Daniel Oliveira/ads.pt

* Devido a problemas técnicos, foi-nos impossível proceder à gravação, em vídeo, das declarações de Flávio das Neves. Pedimos a Vossa compreensão.