«Pretendo uma equipa a controlar o jogo, a gerir o seu ritmo e a mandar, em casa e fora» – Ricardo Sousa

Ricardo André Pinho de Sousa. O apelido deixa pouca margem de erro quando sabemos que se trata de uma figura ligada ao futebol, em geral, e à Associação Desportiva Sanjoanense, em particular.

Escolhido para orientar a formação sénior do futebol alvinegro, Ricardo Sousa prepara-se para, uma vez mais, seguir as pisadas do pai, António Sousa, que deu brilho aos relvados portugueses como jogador e, posteriormente, na função de treinador.

Aos 36 anos, Ricardo, que foi o autor do golo que deu a Taça de Portugal, em 1999, ao Beira-Mar, na altura orientado pelo seu pai, optou pelo fim da carreira de jogador mas não tardou a dar um novo rumo à vida, desta feita na parte de fora das quatro linhas.

Com diversos convites em carteira, o antigo médio diz não ter hesitado na hora da escolha e, com uma proposta da Sanjoanense, assumiu o plantel sénior, naquela que será a primeira experiência como técnico.

Ciente da exigência associada ao cargo, a poucos dias do início oficial da nova época, o agora treinador esteve à conversa com o nosso site e, com expectativas elevadas, abordou o trabalho até agora desenvolvido, refletindo sobre as mudanças, o contexto e os objetivos propostos para o grupo que orienta.

Ricardo, na apresentação como treinador da Sanjoanense disse que aquele era o dia mais feliz da sua vida. Depois de um mês de trabalho com o plantel sénior, mantém os sentimentos e as expectativas em alta?

Sem margem para dúvidas. É uma experiência nova, algo que sabia que, mais tarde ou mais cedo, podia concretizar-se porque queria ficar ligado ao futebol e tinha por ambição começar a treinar. Tive três ou quatro convites para começar em atividade, ainda no decorrer da época passada, mas achei por bem não o fazer porque tinha dado a palavra ao clube em que estava de que acompanharia a equipa até ao fim, uma vez que queria estar com eles independentemente da lesão grave que sofri. Voltei a receber uma proposta no início da época e não aceitei, mas nem hesitei a partir do momento em que a Sanjoanense se chegou à frente e me disse que gostava que integrasse um projeto completamente novo. É um prazer iniciar a minha carreira profissional como treinador no clube onde me formei como jogador. É o clube da minha terra, aquele que acompanhei durante 14 anos. É uma felicidade enorme!

A decisão acabou por surpreender muita gente. Sentiu que a sua missão, enquanto jogador, estava terminada?

Aquilo que as pessoas queriam, no clube onde estava no ano passado, era que eu continuasse a jogar mas, depois da lesão grave que tive e depois de começar a receber algumas propostas para começar a treinar e perceber que um dia gostava de estar deste lado, foi fácil definir que o ponto final tinha chegado. É doloroso ter que encerrar uma carreira depois de 20 anos como profissional e 10 nas camadas jovens… Dói porque ainda queremos estar lá dentro, queremos jogar. Ainda agora, nos primeiros tempos no banco, a bola passa à frente, há um livre, um canto, algo que estava habituado a fazer e é completamente diferente estar no banco ou estar em campo. Mas os objetivos são diferentes, a maneira de estar também tem que o ser e sinto-me completamente preparado para este desafio, apesar de saber que não será uma tarefa fácil porque a Sanjoanense tem sócios que exigem bastante da equipa técnica, dos jogadores e da própria Direção.

Que ambições tem, em termos pessoais, para a nova temporada?

A ambição que um treinador deve ter, desde cedo, é querer ganhar sempre. O único objetivo da Sanjoanense, para a próxima época, é a manutenção. Queremos cimentar o projeto começado na última temporada, queremos voltar a garantir a manutenção no Campeonato Nacional de Seniores, com uma equipa jovem e orçamento muito reduzido, para que no próximo ano possamos ter estabilidade para crescer.

Com o que temos este ano, aquilo que transmito aos jogadores é que perder acaba por nos matar dia após dia. Perder é a pior coisa que existe e nós vamos sempre lutar pelos três pontos, pensando jogo a jogo.

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Ricardo Sousa, treinador da Sanjoanense. Fotografia: Daniel Oliveira/ADS

Falando dessa luta constante pela vitória e da necessidade de resultados, do ponto de vista dos adeptos esta foi uma pré-temporada de registo, com resultados assinaláveis. Quanto ao Ricardo, como treinador, que avaliação faz da preparação feita?

A pré-época foi positiva em vários aspetos. Primeiro porque, ao contrário das restantes equipas, temos um grupo praticamente novo e depois porque temos um jogador com 32 anos, outro com 27 e os restantes com 23 anos ou menos. É um grupo bastante jovem…

Quanto aos resultados, foram aparecendo com naturalidade. Temos uma grande ambição de vitória, independentemente de jogarmos com equipas superiores como foram os casos da Oliveirense, o União da Madeira e o Arouca. Tentámos disputar todos os jogos cara a cara com o adversário, sem olhar à divisão em que nos encontramos. À exceção do jogo com o Arouca, que foi o mais atípico e com maior peso de responsabilidade por ter sido o de apresentação, batemo-nos sempre de igual maneira e é isso que vou querer no campeonato. Pretendo uma equipa a controlar o jogo, a gerir o seu ritmo e a mandar, em casa e fora. E estou certo que será indiferente jogar em casa ou fora porque, com os adeptos que temos, a Sanjoanense terá sempre o seu 12º jogador. Isso será muito benéfico e aproveito para pedir a ajuda da massa associativa porque a equipa técnica, os jogadores e a Direção estão a contar com todos vocês!

As alterações no plantel são, de facto, bastantes, desde a equipa técnica aos jogadores. Sentiu que essas mudanças eram necessárias para dar um novo rumo ao clube, depois de um ano marcado pelo regresso e estabilização nos campeonatos nacionais?

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Fotografia: Daniel Oliveira/ADS

Quando eu cheguei o plantel ainda não estava formado, tinha apenas 5 ou 6 jogadores. Falei com a Direção, que me transmitiu aquilo que queria fazer nesta época e que passava, essencialmente, por dar continuidade a um trabalho de promoção de jogadores da formação, que está a ser feito de forma exemplar. Todos os anos surgem novos jogadores da formação na equipa sénior e este ano não é exceção. Somos um grupo composto por 24 elementos, dos quais 13 pertencem às camadas jovens da Sanjoanense. É a continuação de um projeto, ao qual se aliam os meus conhecimentos e as ajudas do Jorge Neves e do Luís Mota, que nos permitiram ir buscar, com alguma facilidade, 5 ou 6 elementos que serão fundamentais para o nosso sucesso.

Está satisfeito com as opções de que dispõe?

Sem dúvida! Todas as decisões tomadas em termos de contratações foram muito ponderadas. Foram, basicamente, decisões minhas, do Jorge Neves e do Luís Mota e todos os jogadores têm dado resposta positiva. Queríamos jogadores jovens, que possam ser importantes para a Sanjoanense no presente mas que possam, também, dar o seu contributo no futuro. É nisso que pensamos… E com a envolvência que a Sanjoanense tem tido no futebol português, com as vendas que tem feito e com a qualidade que tenho visto nos jogadores, estou plenamente convicto que, no final deste ano, a Sanjoanense pode fazer muito dinheiro com alguns dos elementos que aqui estão.

Uma das características da equipa técnica que lidera é o facto de todos os elementos serem de São João da Madeira e terem feito formação na Sanjoanense. Um dos elementos que o acompanha é Cândido Costa, com quem, como se sabe, tem uma relação de grande proximidade. Vê o Cândido como a sua principal extensão dentro do plantel?

Sim. Este é um projeto conjunto e que já estava a ser preparado há 2 ou 3 anos. Já tínhamos dito que, mais cedo ou mais tarde, a oportunidade apareceria e trabalharíamos em conjunto. O Cândido é e será sempre o meu braço direito em termos de futebol porque é a pessoa em quem mais confio, a pessoa que me dá mais conselhos em relação ao que devo ou não fazer, independentemente das decisões passarem por mim, e é a pessoa que mais ouço. É a minha maior ajuda e a minha maior valia dentro daquilo que pretendo fazer em termos de carreira como treinador de futebol.

Quanto à época que se aproxima, a Sanjoanense continua na Série D do Campeonato Nacional de Seniores e terá pela frente a maioria das equipas que defrontou na temporada anterior. Daquilo que conhece, enquanto jogador e agora treinador, o que se pode esperar deste campeonato?

Vai ser um campeonato complicado. O mais complicado para a Sanjoanense é que, jogando com o Bustelo, o Cesarense, o Estarreja ou o Lourosa, em casa ou fora, estará a jogar derby’s. O Lusitano Vildemoínhos não tem derby’s, o Gafanha também não e quem joga contra a Sanjoanense acaba sempre por dar 200%. Somos um Benfica ou um FC Porto desta série e isso acaba por prejudicar-nos um pouco, mas estamos cientes disso e com vontade de que o campeonato comece o mais rapidamente possível, porque todos os jogadores têm dado sinal positivo e penso que estamos a conseguir prepara-los para os grandes jogos. Isso define o que cada um pode ser no presente e no futuro e acredito que todos eles estão preparados para o que aí vem.

Em relação aos derby’s que agora abordou, um dos motivos de interesse da nova época é, sem dúvida, o regresso dos jogos entre Sanjoanense e Lourosa, clubes que na última temporada integraram séries diferentes. Tendo em conta que um desses encontros é já na primeira jornada, o que espera do adversário?

O Lourosa é um dos adversários mais fortes desta série. Vem da Série C, a mais competitiva do Campeonato Nacional de Seniores, e é uma equipa que tem cimentado a sua posição. É madura, matreira e com experiência. Se calhar sai como favorita para este encontro inicial mas nós estamos cá para tentar contrariar esse favoritismo, para ombrear e lutar pela vitória até ao fim.

Quanto ao contexto do clube, daquilo que conhece da Sanjoanense e depois de um mês de trabalho no clube, quais são, na sua opinião, as condições que faltam para que este possa voltar a assumir-se ao mais alto nível?

Eu penso que a sociedade de São João da Madeira vive um bocado à custa de resultados. A envolvência depende muito dos bons resultados mas penso que os adeptos devem estar com o clube nas alturas boas e más. Se as pessoas se unirem será mais fácil para a Sanjoanense cimentar este projeto e chegar ao topo o mais rapidamente possível. Eu conheço a Primeira Liga, a Segunda Liga e o Campeonato Nacional de Seniores e são poucas as equipas portuguesas, nesta divisão e em superiores, que têm as condições, a ambição, os adeptos e a cidade que a Sanjoanense tem. Penso que, a partir do momento em que a Sanjoanense conseguir unir todos e subir este patamar, que é o mais complicado, poderá chegar ao topo e dificilmente de lá sairá…

O Ricardo teve uma carreira marcante, quer em Portugal quer no estrangeiro. Sente que a experiência acumulada é benéfica para a transmissão das ideias pretendidas aos jogadores que agora orienta?

Sem dúvida. E uma das coisas que me tem deixado satisfeito é que, apesar de serem muito jovens, os jogadores tentam e querem evoluir mais. E a evolução deles para palcos maiores passa um bocadinho pela aprendizagem que vão tendo com cada treinador que os orienta. Eles tentam saber e perguntam o que devem fazer para chegar a um patamar em que eu ou o Cândido estivemos e isso demonstra caráter e ambição da parte deles, que querem realmente crescer. E, quando assim é, penso que tudo se torna mais fácil.

Numa palavra, e mesmo tendo em conta o pouco tempo passado, como define o grupo de trabalho que tem à disposição?

Ambicioso.

Quais são as grandes surpresas deste primeiro mês?

A infra-estrutura que estou a encontrar na Sanjoanense. Penso que tenho que ter algumas palavras de consideração para alguns diretores que nos têm acompanhado, como o Jorge Neves, o Luís Mota, o Filipito, o Pedro Neto e o Bruno Conceição. Têm sido inexcedíveis em tudo o que temos pedido e com o grupo de trabalho e têm-nos dado condições e matéria que nem equipas da primeira divisão têm. E os jogadores têm que aproveitar aquilo que eles têm para nos oferecer.

Para terminar, que mensagem deixa aos adeptos?

Estejam connosco, são o nosso 12º jogador! Volto a dizer que são o nosso jogador mais importante porque são vocês que nos fazem sentir em casa. Temos que nos manter juntos porque juntos somos sempre mais fortes! E tenho a certeza absoluta que, se estiverem connosco, conseguiremos atingir os objetivos pretendidos mais cedo do que se espera. E podem estar completamente descansados, eu vou fazer com que os jogadores dêem o corpo por este clube, por esta instituição, porque eu sou daqui, também o fiz e continuo a fazer!

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Fotografia: Daniel Oliveira/ADS

Pedro Fernandes/Daniel Oliveira