Alexandre Sousa Costa Pardal carrega, no próprio nome, a imagem de uma das mais importantes figuras da história da Associação Desportiva Sanjoanense.
Neto de Sidónio Pardal, sócio fundador do clube, herdou, com naturalidade, o amor pela instituição, na qual se iniciou para o futebol com apenas 6 anos, por influência do pai.
Com passagem por todos os escalões de formação da Sanjoanense, ainda cumpriu o primeiro ano de sénior no clube, mas a pouca utilização levou-o, com a tristeza da saída, ao vizinho Carregosense, ao serviço do qual se estreou, por obra do destino, contra o clube do coração.
Porém, uma temporada foi suficiente para voltar a convencer os dirigentes alvinegros, que não tardaram a lançar-lhe o convite para o regresso. Assim, voltou a São João da Madeira no ano seguinte e por cá ficou, tendo-se afirmado, nas duas últimas épocas, como figura importante do plantel principal, pela regularidade exibicional apresentada.
Aos 22 anos, foi uma das primeiras apostas para a nova temporada e prepara-se, assim, para mais um ano no clube que o viu crescer.
Em conversa com o nosso site, Pardal fala com abertura sobre a sua experiência, a influência da família e tudo o que o rodeia, sem fugir aos temas mais sensíveis. Lança ainda os objetivos para a nova época, aborda sonhos e ambições e conta, inclusivamente, algumas curiosidades que marcam a ainda curta carreira.
Antes de mais, fala-nos um pouco sobre ti. Como é o Pardal?
De forma resumida, sou um rapaz que gosta de futebol, sou apaixonado pela modalidade e posso dizer que vivo essencialmente para ela. Vivo muito para o futebol, para a minha família e para os meus amigos. Sou um rapaz simples, amigo do amigo e pacato.
Porque decidiste começar a praticar futebol?
Foi mais por iniciativa do meu pai. Eu andava na natação mas o meu pai, como gosta muito de futebol e é apaixonado pela Sanjoanense, falou com o treinador, que na altura era o Zequinha, e acabei por ir fazer um treino, quando tinha ainda cinco anos. Na altura apenas jogava futebol na rua, com os amigos, mas gostei do treino que fiz e acabei por escolher a modalidade.
Ainda assim, na altura não podia entrar para o escalão, porque a idade mínima eram 6 anos. Fiz alguns treinos, parei e quando completei a idade necessária entrei nas escolinhas da Sanjoanense. Desde aí, até hoje, sempre estive ligado ao futebol.
És neto de Sidónio Pardal, um dos sócios fundadores da Associação Desportiva Sanjoanense e figura notável da nossa cidade. O que é que isso representa, para ti?
A nível pessoal é um orgulho. É fantástico passar na rua e deparar-me com pessoas que conheciam o meu avô, que me dizem que era uma grande pessoa e que ajudou muito a Sanjoanense. Quando ouço isso sinto muito orgulho, é muito bom!

E a própria instituição, o que representa em termos pessoais?
É o meu clube. Aprendi com o meu avô e o meu pai a gostar da Sanjoanense e desde miúdo que a acompanho, ainda que mais no futebol. Sou sócio desde muito novo e é o meu primeiro clube. Se ao sábado ou domingo não houver jogo, já não é a mesma coisa… Sinto que me falta algo. E isso foi-me incutido pelo meu avô e pelo meu pai.
Que características distinguem, na tua opinião, a Sanjoanense dos restantes clubes?
É um clube diferente. Temos, por exemplo, clubes como o Feirense, a Oliveirense ou o Lourosa bem perto de nós e, quando comparados com a Sanjoanense, toda a gente percebe que são diferentes, pela massa associativa e pela história que nos caracterizam. É certo que não é o historial que joga mas é algo que diz muito de um clube.
A Sanjoanense move uma grande quantidade de adeptos, que marcam presença nos estádios e pavilhões onde jogamos, e isso representa bem essa diferença.
Para além disso, somos um dos mais ecléticos clubes em Portugal. A Sanjoanense não é só futebol, como são muitos à nossa volta. Acolhemos centenas de jovens, mesmo de localidades vizinhas, que têm aqui a oportunidade de praticar a modalidade de que gostam.
É um clube diferente por tudo isso…
São muitas as vozes que apontam a Sanjoanense como um “monstro adormecido”. O que é que, na tua opinião, falta ao clube para que possa voltar a assumir a sua importância no panorama nacional?
Apoios. Acho que, a nível de organização, a Sanjoanense recuperou de algumas lacunas que se verificavam há alguns anos e hoje é um clube bem gerido, organizado e que trabalha bem em todas as áreas. Acredito, sinceramente, que faltam apoios, que podem passar por uma maior envolvência das empresas da nossa cidade. Deixa-me triste, por exemplo, chegar a Santa Maria da Feira e ver, no estádio do Feirense, o nome de uma empresa sanjoanense que não se encontra no nosso estádio. São opções e não quero, com isto, criticá-las, mas penso que são esses apoios que faltam à Sanjoanense e que podem fazer com que o clube atinja patamares superiores.
Falando um pouco do teu percurso, fizeste toda a formação no clube mas, no segundo ano como sénior, acabaste por fazer a tua única época, até ao momento, longe de São João da Madeira. O que é que significou a saída do teu clube de sempre?
Foi triste… Na altura em que saí senti-me triste. Não com o clube, mas com algumas das pessoas que o dirigiam. Penso que a maneira como saí não foi a mais correta. Não digo que não tivesse que sair, porque isso são opções, mas senti tristeza pela forma como fui tratado. Mas, como disse, não culpo o clube, longe disso. Penso que, nesse caso, a culpa foi das pessoas que para ele trabalhavam.
Mas foi um ano diferente, um ano de aprendizagem. Quando saí tinha sempre o objetivo de voltar e, depois de ter feito uma boa época no Carregosense, durante a qual participei em quase todos os jogos, acabei por ser convidado a regressar. Nem olhei a valores… Vim porque o meu objetivo sempre foi regressar o mais rapidamente possível.
Ao longo da formação, destacaste-te como extremo mas, durante o ano em que representaste o Carregosense, acabaste adaptado a lateral direito. Como é que encaraste a nova posição?
Foi engraçado. Quando cheguei ao Carregosense ainda jogava a extremo mas houve um jogo em que era preciso marcar um adversário e não tínhamos laterais. O Luís Miguel, que era o meu treinador da altura – também com a ajuda do Pedro Justo, que acredito que lhe tenha dado algumas referências –, colocou-me a jogar a lateral e o jogo acabou por me correr bastante bem. A partir daí fui aposta, comecei a ganhar rotinas na posição e hoje em dia sinto-me muito melhor nessa zona do campo. Acabo por conseguir fazer as duas coisas: atacar como um extremo e ser mais responsável por saber que tenho que defender.
Alguma vez pensaste que, depois da saída, pudesses regressar tão cedo à Sanjoanense?
O meu objetivo, como disse anteriormente, sempre foi regressar no ano seguinte. Nunca pensei noutra coisa. Mesmo estando fora, torcia pela Sanjoanense e queria que conquistassem a subida, que andavam a disputar com o Lourosa.
Aliás, o primeiro jogo que fiz pelo Carregosense foi contra a Sanjoanense e posso dizer-vos que nem sequer consegui dormir na noite anterior! E acabei por entrar muito nervoso no jogo…
O meu objetivo era voltar o mais cedo possível. Acabei por ser convidado a regressar logo no final da época e não hesitei.
Sabemos que, há pouco tempo, foste abordado na rua por um jovem que costuma ver os jogos da Sanjoanense e que confessou a admiração que sentia por ti. O que é que esse reconhecimento significa para ti?
É espetacular! Estamos habituados a ver isso em jogadores de clubes de topo e nunca pensamos que isso nos pode acontecer. Do nada, o miúdo veio ter comigo e dirigiu-me algumas palavras simpáticas e isso faz-me sentir bem e pensar que estou no caminho certo, a trabalhar bem. Fico bastante feliz e orgulhoso.
Quanto ao presente, foste uma das primeiras apostas para a próxima temporada e renovaste o vínculo que te liga ao clube. O que é que esperas da nova época?
A nível pessoal espero jogar e evoluir mas sempre com os objetivos do clube e do coletivo em primeiro lugar. Temos uma excelente equipa e acredito que vamos fazer um grande campeonato. Queremos garantir a manutenção o mais rapidamente possível e, se conseguirmos algo mais, melhor.
Agora é trabalhar bem como trabalhei nos últimos dois anos e esperar que o treinador confie em mim. E tenho a certeza que os objetivos individuais e colectivos serão alcançados.
Muito se tem falado sobre as alterações no plantel, desde jogadores a equipa técnica. Depois de duas semanas de trabalho, como é que o balneário tem encarado esta nova experiência?
Tem sido fantástico. Como já disse, o clube trabalhou muito bem nesse sentido e hoje posso dizer que melhorámos bastante. As pessoas que estão na Sanjoanense são fantásticas, temos um grupo excelente, com uma equipa técnica com pessoas incríveis, e, nestas duas semanas, temos revelado muita união e responsabilidade, apesar das brincadeiras normais. Foram duas semanas bastante positivas que se prolongarão ao longo da época, com toda a certeza.
Qual é, para ti, o melhor momento enquanto atleta da Sanjoanense?
A subida de divisão nos juniores. Lembro-me também a conquista do campeonato distrital de iniciados, que era uma ambição do clube porque era o único escalão que faltava ter nos campeonatos nacionais.
Mas a conquista principal foi a promoção nos juniores. Era um ano em que tínhamos um plantel com poucas soluções. Éramos 17/18 jogadores e jogámos contra Boavista, Salgueiros, Padroense, Oliveirense… Clubes que tinham bons plantéis. Lembro-me que quando saiu o calendário pensámos que a manutenção seria complicada, mas fomos ganhando, conquistando pontos e conseguimos a subida de divisão. Colocámos a Sanjoanense no patamar mais alto daquele escalão. Foi um momento de muita alegria e acho que foi o melhor momento que vivi como atleta da Sanjoanense.
E o pior?
Ter saído. Foi triste… Foi uma opção das pessoas que estavam à frente da Sanjoanense, que entenderam que seria o melhor para o clube. Mas já passou e agora só tenho que olhar em frente e continuar com o trabalho que tenho desenvolvido.
Que ambições tens para o futuro?
Para já quero ajudar a Sanjoanense a alcançar os objetivos a que se propôs no início da época e, a nível pessoal, quero tentar conquistar o melhor para mim, se possível com muito tempo de jogo.
Posteriormente, quero tentar alcançar patamares superiores. Se o puder fazer com a Sanjoanense, melhor. Caso não seja possível, gostaria, pelo menos, de o fazer sabendo que a Sanjoanense lucrava com a minha saída… Um pouco à imagem do que aconteceu com o Gian, cuja proposta foi benéfica para ambas as partes.
Que conselhos dás aos jogadores mais novos da nossa formação?
Que tenham alegria a jogar. Digo, principalmente aos mais novos, que não pensem que estar na Sanjoanense é estar num clube menor e que não se iludam com todas as propostas de clubes de topo que possam aparecer. Tenho amigos que fizeram toda a formação em clubes de topo e que se sentiram injustiçados em certo ponto. Os jovens têm tempo de chegar lá, não são uns craques do futebol aos 6/7 anos. O importante é que consigam conciliar o desporto com os estudos e essa sempre foi uma prioridade da Sanjoanense. Joguem com alegria, estudem e não pensem já em altos voos. Têm tempo para poder sonhar!
Para terminar, qual é o teu grande sonho enquanto jogador da Sanjoanense?
Gostava de conseguir a promoção aos campeonatos profissionais. Acho que já a merecíamos, não só pela organização e historial da Sanjoanense, mas também porque é um clube que faz falta ao futebol profissional, pela massa associativa de que dispõe. Se o conseguir fazer, um dia, será um grande orgulho e a conquista de um objetivo.


Pedro Fernandes/Daniel Oliveira