Humildade, trabalho, experiência. Estas são três das principais características que definem Fábio Daniel Moreira Barros.
Convidado a integrar o plantel da Sanjoanense, depois de passagens por Gondomar, Asteras Tripolis (Grécia), Beira-Mar, Santa Clara, Ayia Napa (Chipre), Fátima, U. Leiria e Cinfães, o defesa não virou as costas à luta e, no primeiro ano no clube, tem assumido papel fundamental, surgindo, inclusivamente, como um dos capitães da formação sénior de futebol.
Eloquente no discurso e seguro nas palavras, Fabeta, como é conhecido, há largos anos, no mundo do futebol, aceitou o desafio e, numa agradável conversa, dá a conhecer um pouco mais de si, fazendo-nos viajar entre Portugal, Grécia e Chipre, com base em histórias entusiasmantes e vivências capazes de prender a atenção.
Sem medo de recordar o passado e abordar o presente, que o trouxe a São João da Madeira, fala das experiências em Portugal e no estrangeiro, dos momentos bons e das situações menos agradáveis de uma carreira que tem já muito para contar.
Aos 28 anos, Fabeta assume satisfação pelo cenário encontrado e aponta à rápida conquista dos objetivos propostos, desdobrando-se em elogios ao clube, à organização da estrutura e à “pressão boa” criada pelo apoio da massa associativa que o acompanha.
Fabeta, antes de mais, como surgiu a paixão pelo futebol?
Surgiu muito cedo. Comecei a jogar futebol com 6 anos, no Gondomar, o clube da minha terra, por influência do meu avô, que me incentivou e levou ao clube. A partir daí, fui crescendo no Gondomar e a paixão cresceu também, de dia para dia.

Fizeste toda a tua formação no Gondomar, clube que representaste também como sénior, e do qual saíste, aos 20 anos, para a primeira experiência no estrangeiro. Como foi passar da II Liga portuguesa para o principal campeonato da Grécia?
Foi fantástico! Tinha feito uma época brilhante, as coisas tinham corrido muito bem a nível individual e coletivo e isso fez com que os meus atributos individuais fossem realçados. Foi uma felicidade enorme!
Esperavas uma mudança tão abrupta na carreira?
Ao início não, para ser honesto. Comecei a época com o treinador adjunto a propor-me um empréstimo, parti como quarta opção para central e, mais tarde, passei a quinta, depois da chegada de um atleta brasileiro. Mas, no primeiro jogo de Taça da Liga, deu-se a expulsão de um dos centrais titulares e, no jogo inicial do campeonato, aproveitei a ausência dele e de um outro jogador a quem faltava o certificado internacional. O treinador deu-me oportunidade e correspondi ao que me era pedido. Voltei a sair da equipa depois desse jogo mas, passados quatro jogos, as coisas não estavam a correr bem e voltei a ser aposta.
Foste para a Grécia pela mão de Carlos Carvalhal, treinador que tinha saído do Vitória de Setúbal como vencedor, no ano anterior, da primeira edição da Taça da Liga, contra o Sporting. Sentias pressão adicional por seres orientado por um treinador com tamanho reconhecimento em Portugal?
Sim, sentia uma pressão boa. Mas esse foi, também, um dos motivos que me fez ir para a Grécia. Já me tinham falado da oportunidade de o acompanhar no Vitória de Setúbal mas surgiram outras oportunidades no estrangeiro. Estive em Zurique, a treinar com o plantel e pronto para negociar contrato e era para lá que pretendia ir. Era o que queria e estava tudo preparado. Entretanto, a mudança do Carlos Carvalhal para a Grécia e tudo o que isso envolvia em termos de adaptação e absorção de novas ideias e métodos de treino, por ser um treinador português, fez com que alterasse o meu rumo e aproveitasse a oportunidade que me estava a ser dada pelo mister.
Tiveste, mais tarde, outra passagem pelo estrangeiro, para representar o Ayia Napa, equipa que militava na primeira divisão do Chipre, mas, dessa feita, o salto foi ainda maior, desde II Divisão, correspondente ao atual Campeonato Nacional de Seniores. Como é que surgiu essa oportunidade?
Foi através de um empresário cipriota que entrou em contacto comigo. Na altura esse empresário tinha pedido referências a outro jogador português, que eu não conhecia, sobre um defesa central e ele deu boas indicações sobre mim. Depois disso estabelecemos contacto, falámos, vimos a proposta e tudo o que envolvia e acabei por rumar ao Chipre.
A experiência, no entanto, não foi muito feliz…
Se compararmos com a Grécia, falamos de duas situações completamente diferentes… Na Grécia estava num clube muito maior que, apesar de na altura só ter dois anos de primeira liga, hoje está nas competições europeias e tinha já essa ambição no ano em que lá estive. No Ayia Napa foi diferente… O clube tinha acabado de subir à primeira liga, onde só tinha estado por uma vez na sua história, e o campeonato cipriota torna-se bastante complicado para as equipas que sobem de divisão.
Acabou por ser uma experiência infeliz precisamente no momento em que estava mais feliz. Tivemos jogo com o APOEL, as coisas estavam a correr-me muito bem mas, infelizmente, sofri uma lesão que me arrastou para um período de paragem de três meses… Se calhar, se fosse cá, com os médicos certos, teria sido algo bem mais fácil de recuperar. E os clubes cipriotas, como se sabe, têm muitos problemas a nível de mentalidade. Os dirigentes do Ayia Napa prejudicaram-me muito quando viram que ia estar algum tempo parado. Quiseram rescindir contrato comigo e foi difícil nesse aspeto porque, até lá, estava a correr tudo bem.
O que é que passa pela cabeça de um jogador quando se encontra numa situação como essa?
É sempre complicado estar lesionado e desmotiva muito quando estamos numa fase boa. No final daquele jogo com o APOEL senti confiança redobrada e vi que a equipa técnica e a direção tinham muita esperança em mim, que podia ter ali um futuro risonho. Depois de ver a ressonância magnética e ter percebido que a lesão tinha alguma gravidade fiquei muito triste mas fiquei pior ainda quando o clube começou, com o passar do tempo, a querer baixar-me o ordenado e rescindir contrato comigo por ter um tempo grande de paragem. Isso foi, sem dúvida, uma experiência horrível mas, felizmente, tive a sorte de ter vários companheiros portugueses e famílias portuguesas que lá estavam e me apoiaram muito nos momentos mais difíceis. Se não fossem eles seria muito mais difícil estar longe de tudo e todos a viver uma experiência horrível.
Era fundamental, para ti, voltar a casa e estabeleceres-te no teu país?
Sim. No Chipre estive três meses lesionado e, num dos regressos a Portugal, consegui recuperar numa semana o que não tinha conseguido nesse período. Quando lá voltei estava com esperança de que pudesse voltar a ser opção, apesar de todas as divergências por que tinha passado. Mas, infelizmente, não foi possível. A equipa técnica mudou, o novo treinador depositou muita confiança em mim mas a direção não permitiu a minha utilização.
Quando regressei a Portugal estava há, mais ou menos, sete meses sem competição e sabia que não podia ambicionar nada em grande. Sabia que tinha que recomeçar, estabilizar e voltar a crescer de forma sustentada.
Falaste, há pouco, de teres tido a possibilidade de jogar pelo V. Setúbal, algo que acabou por não se concretizar. Até ao momento, não integraste nenhum plantel no principal escalão em Portugal. Voltaste a ter oportunidade de o fazer?
Nesse ano tive oportunidade de integrar diversos clubes de primeira liga portuguesa. Não tinha só o V. Setúbal… E quando rescindi na Grécia tinha tudo tratado para regressar a Portugal e jogar no escalão principal. Depois, já após o meu regresso, é que fui informado de que teria que jogar de novo na segunda liga. Mas aí já tinha a rescisão acertada e não havia muito a fazer. Entre as escolhas que tinha, acabei por optar pelo Beira-Mar.
Depois do regresso do Chipre representaste Fátima, U. Leiria e Cinfães. Agora optaste pela Sanjoanense. O que motivou esta escolha?

Essa não é uma pergunta difícil… Porquê a Sanjoanense?… Durante o meu período de férias, falaram-me muito bem do clube. O antigo treinador entrou em contacto comigo e falou-me maravilhas da Sanjoanense. É um clube que procura crescer novamente, depois de passar uma fase difícil, e que tenta voltar aos poucos ao topo, apesar das dificuldades do dia-a-dia. Falou-me muito bem da Sanjoanense e da experiência de jogar no Campeonato Nacional de Seniores com um apoio e uma massa associativa que criam uma pressão boa para trabalhar diariamente e jogar ao fim-de-semana.
Depois porque, através de mais algumas informações que fui recolhendo, senti que poderia ser um clube onde me encaixaria bem e que podia ajudar, para que todos alcançássemos o sucesso.
E, para além disso, porque sabia que ia ter a oportunidade de trabalhar com o Ricardo Sousa, que conheço desde há muito tempo e com quem pretendia estabelecer uma ligação profissional. Este foi, sem dúvida, um dos principais motivos para aceitar este projeto.
Sentes que tens mais responsabilidade por seres um dos jogadores mais velhos do atual plantel da Sanjoanense?
Sem dúvida… Olho para o balneário e, pela primeira vez, percebo que só há um jogador mais velho do que eu. A equipa é muito jovem, repleta de miúdos com uma qualidade fantástica, que estão a crescer. Isso faz com que sinta uma responsabilidade acrescida porque tenho que passar-lhes um bocadinho da minha experiência, para que não cometam os erros que eu cometi e cresçam de forma sustentável, correspondendo à qualidade de trabalho exigida.
É uma responsabilidade boa porque tenho a certeza que, dentro de um ou dois anos, iremos ver jogadores desta equipa em plantéis de primeira liga. E vai ser com orgulho que irei olhar para eles e ver que têm um bocadinho de mim… Isso é bom.
Tendo em conta a experiência de que dispões, vês-te como um pilar fundamental do plantel, especialmente em termos de gestão de balneário?
Claro que, tendo em conta a experiência, os jogadores olham para mim e vêem alguém que os pode ajudar num momento em que as coisas não estejam a correr tão bem. Por vezes precisam de ouvir as palavras certas e eu tento dar um pouco daquilo que outras pessoas me deram ao longo destes anos. Tive pessoas fantásticas nos grupos de trabalho por que passei, das quais tentei sempre reter o máximo possível para me ajudar a crescer, e hoje em dia tento dar um bocadinho disso aos mais novos. Tento transmitir o meu exemplo… Mediante isso, não me sentindo um pilar dentro do balneário, porque acredito que todos somos iguais e olhámos uns para os outros da mesma maneira, acredito que os posso ajudar e acho que eles percebem isso quando olham para mim.

Apesar de ser o teu primeiro ano no clube, foste nomeado como um dos capitães de equipa. O que é que isso representa para ti?
É, desde logo, um motivo de satisfação e orgulho ser um dos capitães de uma instituição com a Sanjoanense. Representar o balneário é algo gratificante porque, onde quer que seja, posso falar com o maior orgulho dos meus colegas de equipa. E o sentimento, neste momento, é mesmo esse: o orgulho por representar esta instituição!
Que conselhos tentas transmitir aos atletas mais jovens?
Principalmente, que tenham humildade e trabalhem. Sei que já percebem, pelo que vêem no dia-a-dia, que, por vezes, a qualidade, o trabalho e a humildade podem não resultar em muita coisa mas estou certo de que se eles trabalharem sempre a 100%, demonstrarem humildade e souberem ouvir e respeitar irão chegar longe. O que lhes costumo dizer é, sobretudo, que mantenham a humildade e se apercebam que estão a crescer de forma continuada. Ainda não ganharam nada e, para que isso aconteça, é preciso muito tempo. E digo-lhes que mantenham um nível de trabalho que agrade tanto a eles como a todos aqueles que os rodeiam.
Em termos pessoais e coletivos, o que pretendes conquistar ao longo desta temporada?
Primeiro, em termos coletivos – porque o grupo está sempre à frente das ambições pessoais –, espero satisfazer e cumprir os objetivos impostos pela direção, que passam por garantir a manutenção o mais rapidamente possível, apesar de achar que, com este grupo de trabalho, quando estiverem limados alguns pormenores que nos têm marcado, temos equipa para ambicionar por algo mais. Mas, até lá, precisamos realmente de crescer e melhorar, sempre com a manutenção como objetivo principal, como disse.
A nível pessoal, o maior objetivo é ver esta equipa que, possivelmente, deve ser das que melhor futebol joga no Campeonato Nacional de Seniores, ser destacada e reconhecida por tudo o que faz nos jogos e treinos. Sentiria uma enorme satisfação se visse o trabalho do grupo reconhecido. Para além disso, tenho 28 anos e espero, ainda, poder alcançar outros patamares. Desejo que, juntando os objetivos coletivos e pessoais que acima mencionei, possa concretizar essa ambição.
Ao longo destes primeiros meses ao serviço da Sanjoanense, o que é que te surpreendeu mais no clube?
A organização. Nota-se que é um clube organizado, com pessoas sempre perto de nós, preocupadas com o nosso bem-estar, disponíveis para nos ajudar. Vêem o que está bem, o que está mal, corrigem… Temos uma direção que tem estado connosco, tem sido um pilar enorme para o bem-estar dos atletas e espero que as pessoas que aqui estão sejam reconhecidas e tenham a ajuda das forças vivas da cidade porque acredito que quem está aqui dentro trabalha para o melhor do clube.

Numa palavra, como defines a Sanjoanense?
Bem, numa palavra?… Deixa-me cá ver a palavra certa… Este clube é uma inspiração!
E o balneário que aqui encontraste?
Magnífico!
Um dia que termines o teu percurso na Sanjoanense, como gostavas de ser lembrado?
Quero ser sempre lembrado pelo bem. Quero que as pessoas olhem para o meu percurso aqui e vejam que dei sempre o melhor de mim, que tentei ajudar em tudo o que era possível. E espero que as pessoas falem do Fabeta com satisfação, com respeito e, se possível, também com orgulho.
Para finalizar, que mensagem deixas aos adeptos?
Apoiem-nos… Unam-se, apoiem a instituição, orgulhem-se do clube que têm e ajudem-no porque, pelas informações que recebo, acredito que, se a cidade se unir, a Sanjoanense pode ser enorme e pode voltar a ser aquilo que foi no passado.
Penso que o plantel merece esse apoio, até porque tem atletas que nunca jogaram aqui e mostram, diariamente, um enorme respeito pela camisola que vestem e pelo símbolo que têm ao peito!