Entrevista a Vítor Pereira

Em entrevista ao Site da Sanjoanense, Vítor Pereira aborda a temporada que se inicia já este Sábado em Turquel, não deixando de recordar como se chegou a este ponto, ainda numa forma emotiva como assim foi o decisivo jogo que trouxe de volta a Sanjoanense à I Divisão

13 Anos depois, os alvi-negros voltam a disputar uma partida do mais alto escalão do hóquei em patins nacional e Vítor Pereira é o “homem do leme” pelo quarto ano seguido de uma equipa que tem como objectivo conseguir a manutenção.

Quase 4 meses depois, uma nova era se inicia em poucos dias. Mas começando por falar de como se chegou até aqui, recuando esses mesmos 4 meses e recorrendo às memórias de 10 de Junho, como é que foi ser o Vítor Pereira treinador e o Vítor Pereira adepto, numa partida em que estava em jogo 3 anos de trabalho e, quiçá, o futuro da secção?

V.P.: Existiu muita ansiedade e nervosismo no Vítor Pereira, foi um sofrer até ao fim pois estavam em jogo três anos de trabalho e o futuro do hóquei em patins da Sanjoanense e no final foi um sentimento de missão cumprida como treinador e um orgulho enorme como adepto da Sanjoanense.

Foi uma sensação completamente diferente que nunca tinha sentido como jogador, durante três anos eu fui o mentor de uma secção com muitos problemas, alguns que as pessoas nem imaginam, no fim depois do pénalti decisivo acho que foi o descarregar de todas as situações incríveis por que passamos, eu costumava dizer que, por vezes, lutávamos contra tudo e contra todos e, sem dúvida, que foram emoções que nunca tinha vivido enquanto jogador.

Nós, grupo de trabalho, e pessoas em torno do grupo de trabalho que acreditaram, carregamos esta carga emocional e esta pressão em torno da subida que realmente, com uma subida tão dramática e tão heróica, foi tudo muito emotivo.

Eu costumo dizer que nada na minha vida costuma ser fácil e esta parte desportiva, este play-out que tivemos que disputar, foi na forma mais difícil possível, mas foi talvez a forma mais saborosa.

 

Vendo os imensos vídeos que existem e olhando para aquela moldura humana, como é que se sente ser o timoneiro de um clube amador que, provavelmente, foi aquele que registou a maior assistência a nível nacional, na temporada passada?

V.P.: Senti um orgulho enorme, foi um sonho concretizado. Desde miúdo que via o Pavilhão da Sanjoanense sempre cheio e, quando passei a ser treinador, sonhava voltar a ver aquele Pavilhão como via nos tempos da minha juventude. Foi bom para a modalidade, foi óptimo para a Sanjoanense para que conseguíssemos ganhar mais força e motivação para o futuro e, claro, ficou uma marca registada na memória das pessoas.

Recebemos muitos comentários positivos de pessoas ligadas à modalidade que “deram a mão à palmatória” e reconheceram São João da Madeira como uma cidade de hóquei, que o é.

 

Em Braga a equipa jogou sem medo e com uma enorme alma, em SJM sentiu-se algum peso da pressão? Ou por outro lado foi o HC Braga que denotou a sua maior experiência e mais opções?

V.P.: Eu acho que o Braga era uma equipa que tinha valor para estar acima dos lugares de disputa de despromoção. Se calhar quando nos receberam em Braga pensavam que as coisas iam ser mais fáceis, em São João da Madeira jogaram de outra forma, provavelmente melhor preparados, nós também acusámos alguma ansiedade com jogadores que estavam desde o início deste projecto e que sabiam que era um momento decisivo para nós, o que fez com que praticássemos um hóquei mais cauteloso despoletando um jogo muito táctico, ninguém arriscou declaradamente o que denotou um grande respeito mútuo.

Provavelmente em Braga pensavam que nós íamos segurar o resultado para trazer a eliminatória aberta para São João da Madeira, onde sabiam que em casa éramos fortes, mas não foi isso que aconteceu pois tivemos uma postura diferente, e isso talvez surpreendeu o Braga.

 

Agora temos uma ADS diferente. Saíram Dani Bastos, Drejo, Franklin e João Costa, entraram Leal, Cerqueira, Daniel Homem e Afonso. O que é que cada um deles vem acrescentar?

V.P.: Com estes novos jogadores estamos mais fortes e mais equilibrados, toda a gente sabe que na temporada anterior a planificação inicial foi afectada e tivemos que remendar a equipa, o que fez com que ficássemos desequilibrados. Com estas contratações voltamos a ter esse equilíbrio, podemos não ter aquele jogador de renome e que decida jogos sozinho, mas temos um grupo coeso que valerá pela sua união.

 

A Sanjoanense na II Divisão assumia, na grande maioria dos jogos, a iniciativa. Agora na I Divisão, esse figurino terá, obrigatoriamente, que mudar?

V.P.: A I Divisão é diferente, considero que a I Divisão está repartida em três tipos de equipas: as de topo, que são profissionais e fazem treinos bi-diários, depois as que estão logo ali atrás com uma estrutura montada, bom nível de hóquei e boas condições e, por último, as que subiram e lutam para não descerem.

É claro que o figurino vai mudar um pouco, agora nós não vamos ser os “coitadinhos” nos jogos todos só porque vimos da II Divisão, teremos a nossa estratégia consoante o adversário, uns jogos certamente vamos tentar disputar o resultado logo de início, noutros vamos esperar pelos erros do adversário, mas queremos criar uma identidade própria para começarmos a cimentar a Sanjoanense na I Divisão.

 

Como avalia esta pré-temporada?

V.P.: Esta pré-temporada deve ter sido das mais complicadas que tive de programar, além da II Divisão começar mais cedo duas semanas que a I Divisão, fazendo com que apenas as equipas da I estejam livres para jogos-treino o que nem sempre é do nosso agrado.

Depois tivemos a dificuldade de não termos o piso como queríamos, agora nesta última semana andamos “com a casa às costas” porque o piso está em obras e, bem, é uma situação complicada, hoje treinamos num ringue que prende, amanhã treinamos num ringue que escorrega e isto traz algum desgaste psicológico, mas já estamos habituados às dificuldades.

De facto não é a pré-época que eu desejaria mas é a pré-época que temos e os jogadores têm respondido com grande disponibilidade.

 

Vítor Pereira por algumas vezes se mostrou evasivo sobre o seu futuro à frente do clube. Mas depois de consumada a subida, alguma vez lhe passou pela cabeça não ser o mentor deste novo projecto?

V.P.: Passou, porque com esta subida de divisão terminou um ciclo em que esperávamos ter subido um ano antes se as coisas tivessem corrido da melhor forma, não foi possível mas o objectivo foi conseguido.

Estando na I Divisão, era natural que mais pessoas aparecessem interessadas em treinar a equipa, a mim não me causaria transtorno porque nunca estive agarrado ao lugar, treino a Sanjoanense porque adoro o clube e a modalidade e poderia ter saído tranquilamente. Chegámos a um acordo para eu continuar à frente da equipa e estou contente pelo rumo que as coisas tomaram.

 

As condições que dizia serem necessárias para que a secção tivesse uma dinâmica de I Divisão, estão a ser reunidas?

V.P.: Eu penso que estamos a caminhar nesse sentido, ainda há muitas coisas a colmatar, muitas pessoas que têm medo de colaborar connosco pois se antes existia o medo de não subir de divisão, agora há o medo de descermos de divisão, mas estamos a caminhar de uma forma positiva, estamos em crescendo para que as condições se reúnam, ainda há muita coisa a melhorar e, posto isto, interessa garantir o objectivo desta temporada para depois se formar um projecto estável, com ou sem Vítor Pereira.

 

O que é que pode prometer aos adeptos?

V.P.: O que posso prometer é uma equipa lutadora, com orgulho de envergar a camisola da Sanjoanense e representar a cidade de São João da Madeira, com determinação para lutar pela manutenção e, assim, de uma vez por todas, chamar à atenção de algumas pessoas que ainda vêem o hóquei em patins como um “parente pobre” mas é preciso perceber que estamos a defender o clube no mais alto escalão nacional.

A nós, equipa, compete-nos, sem dúvida, lutar bastante para darmos alegrias aos nossos adeptos, que vão ser muitos em nossa casa e sei que, sempre que puderem, também nos vão acompanhar fora de casa. Esta temporada é óbvio que não vamos conseguir aquela média de pontos que conseguíamos na II Divisão, mas sei que os nossos adeptos percebem isso e não nos vão abandonar.

 

Foram precisos três anos para se chegar aqui e certamente muitas pessoas que contribuíram para isso. Agora mais a “frio”, e passada toda a euforia da subida de divisão, a quem é que o Vítor Pereira treinador quer agradecer e ainda não teve oportunidade para isso?

V.P.: Isto dos agradecimentos é sempre perigoso pois podemos esquecer alguém que não mereça ser esquecido. Ainda assim, agradeço essencialmente a todo o nosso grupo de trabalho nestes 3 anos, especialmente aqueles que acreditaram e mesmo aos jogadores que saíram por um ou outro motivo mas que saíram de uma forma elegante e alguns deles estiveram no jogo decisivo a apoiar-nos, depois à família que sai sempre prejudicada com o hóquei em patins, à empresa, ao meu sócio e colaboradores que são impecáveis em colmatar as minhas ausências devido ao hóquei, a todos aqueles que se puseram de corpo e alma neste projecto e ajudaram, de uma forma ou de outra, para que isto fosse possível.

Mas eu penso que aqueles que me conhecem sabem a quem eu estou agradecido, não quero agradecer a ninguém em especial porque isto foi uma vitória de todos os sanjoanenses, de todos os adeptos, da Força Negra que nunca nos faltou com nada, daqueles que trabalharam na divulgação, de todos os patrocinadores ou colaboradores, enfim, dos que acreditaram e fizeram com que Juntos Fôssemos Mais Fortes.

Agora acredito que, na I Divisão, Juntos (Continuaremos) a ser Mais Fortes!

 

 

Foto: AL